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"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem."

Mario Quintana


domingo, 4 de setembro de 2016

Olimpíada da Língua Portuguesa - Textos selecionados

      Nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura dos anos finais do ensino fundamental  foram trabalhadas as oficinas propostas pela organização da Olimpíada da Língua Portuguesa, que se realiza a cada dois anos. Com o tema "O lugar onde vivo", a turma do 6º ano concorreu na categoria Poemas; o 7º e 8º anos, Memórias Literárias e o 9º ano, Crônicas. A comissão escolar, composta por cinco pessoas, realizou a escolha dos melhores textos, sendo estes encaminhados para a etapa municipal. 
      É com alegria que divulgamos os textos vencedores na escola, sendo que o texto da aluna Sabrina Ficagna (7º ano - Memória Literária) e da aluna Júlia Gabriela Moterle (9º ano - Crônica) foram vencedores na etapa municipal e já estão concorrendo na etapa estadual. O poema foi produzido pela aluna Luíza Gabriela Moterle (6º ano), que também está de parabéns, já que a concorrência era forte, afinal, essa turminha é muito criativa! 


Categoria Poema:

      Meu paraíso

                                         
   Lá no meu paraíso
   Existem três rios,
   Um é o Rio Leãozinho
   E o outro é o Rio Tigre.

   As águas deles se encontram
   Quando desembocam no Rio do Peixe.
   Até parece um zoológico
   Mas são esses os nomes dos rios.

   Gosto muito desse lugar
   Pois na hora de dormir
   Só escuto o cantar das cigarras
   E o barulho das águas
   Por trás da minha casa fluir.

   Temos galinhas que botam ovos
   Mas não são de ouro não!
   Tem de tratar de manhãzinha
   E também ao meio-dia
   Para ficarem bem gordinhas.

   Tenho três cachorros: Di, Lobo e Kinha.
   Esses depois que dormem
   Vão deitar no seu sofá
   Onde passam por um tempo
   Ficam lá a descansar.

   Esse é o meu lugar
   É o meu paraíso.
   Pois aqui eu tenho tudo
   Tudo o que eu preciso.
   Aqui reina a igualdade
   e também a simplicidade.

   O melhor de morar aqui
   É que me traz tranquilidade
   Daqui nunca vou partir,
   Nem na mais velha idade.

   Luíza G. Moterle
   6º ano



Categoria Memórias Literárias:


O susto da mandioca e outras histórias da vovó Romilda
  
                                                                
Morávamos numa cidadezinha chamada Luzerna. Não havia muitas casas e nossos pais não nos deixavam dormir na casa de nenhum colega da escola. Aliás, por falar em escola, não faltávamos um dia e acordávamos muito cedo para chegar a tempo. Ah, e antes que eu me esqueça, íamos descalços, não podíamos nem nos mexer na sala, e se falássemos com algum colega, ai minha nossa! Nossas principais brincadeiras eram cantigas de roda, pular corda e jogar "bulicas". Não podia brigar ou se desentender com alguém.
 Nossa vida era sofrida, tínhamos um caderno e um lápis, e às vezes nem isso. Ganhávamos roupas novas somente quando rasgava a outra, nos vestíamos com vestidos e saias longas. Não viajávamos, somente para a roça, e desde pequenos já ajudávamos nossos pais a plantar e colher os alimentos que eram produzidos em casa, só se comprava açúcar e café.
 Minha maior tristeza era que não se festejavam os aniversários, a Páscoa e Ano Novo, somente no Natal fazíamos algumas bolachas enfeitadas.
 Bom, as casas eram feitas de madeira de pinheiro, e cobertas com tabuinhas. Eram cortadas muitas árvores, tanto para a construção, como para a formação do espaço para o plantio.
 Depois da 4ª série, fui para um internato em Água Doce, onde tive aula de Francês, Inglês e Italiano. Não aprendi muito essas línguas, mas daquele convento jamais me esquecerei, ele era enorme. No primeiro andar havia várias salas de aulas, elas eram grandes, suas carteiras eram feitas de madeira, nós fazíamos a limpeza. Quem dava aula eram as freiras. Já no andar de cima ficavam os dormitórios, dormíamos todas no mesmo quarto. Era tudo muito limpo, cada uma arrumava sua cama e lavava seu uniforme. Na parte da manhã as freiras distribuíam nossas tarefas para o dia, e uma freira que simpatizava muito comigo me levava quase sempre para ajudá-la na cozinha. Íamos visitar nossos pais uma vez a cada ano e ficávamos um mês com eles.
 Eu tinha apenas 12 anos quando fui para o internato e passei quatro anos da minha vida lá. No começo eu queria ser freira, mas depois decidi construir uma família com alguém. Mas, além de tudo isso, um fato que vivi lá e nunca esquecerei, foi a mandioca que assustei. Um dia a freira colocou mandioca para cozinhar e pediu que eu "assustasse a mandioca" durante a sua ausência. Como eu não sabia o que era, fiquei pensando. Quando ferveu, abri a tampa e gritei, esperando tê-la assustado. Naquele exato momento a freira chegou e teve que se sentar na escada para rir, afinal, o susto a ser dado não deveria passar de um copo de água fria acrescentado na panela.
 Não havia fábricas, nem pequenas empresas, cada família tinha seu cultivo em casa. A única coisa que tinha era um mercadinho perto de minha casa. Ainda me lembro dele, ele tinha umas sete ou oito prateleiras que eram feitas de madeira. Eu ia lá comprar açúcar e café.
 Naquele tempo não aconteciam mudanças climáticas bruscas como hoje. O inverno era muito rigoroso. Lembro-me de um ano em que ocorreu uma grande nevasca e tivemos que raspar a neve da estrada com a enxada. Já o verão era muito quente, e tínhamos que ir com nossos pais na roça.
 Nossa família era católica. Participávamos do terço todos os domingos, que eram feitos nas casas dos moradores próximos. Somente mais tarde foi construída uma capela. Ela era bem pequena, toda feita de madeira, tinha dois santos, N. S. Aparecida e S. Paulo. Ao centro havia a imagem de Jesus Cristo. O padre vinha uma vez a cada seis meses para rezar missa. Os batizados eram realizados na igreja matriz. O bispo fazia visita a cada quatro anos, crismava os que ainda não eram, fossem pequenos ou grandes.
 Naquele tempo o namoro era muito rígido, não podíamos sair de mão dada pela rua, nem beijar, caso fizéssemos isso, apanharíamos deles. Aos 24 anos casei e fui morar na casa dos meus sogros. A casa era enorme, feita de madeira, com quatro quartos, que depois foram de meus filhos. A primeira filha que tive faleceu dias depois de nascer, por falta de recurso médico, pois teve pneumonia e não recebeu tratamento adequado. Engravidei novamente e tive dois filhos que me deram quatro netos. Eu os amo muito às vezes penso: como teria sido se tivesse me tornado freira?
   
Sabrina Ficagna
7º ano


Categoria Crônica:


Nem por milagre


          No pacato distrito onde moro tem o santuário de Nossa Senhora Aparecida, que fica bem no topo de uma montanha. Todos os anos, no dia 12 de outubro, é feita uma procissão que sai da igreja do distrito e vai até lá. É muito bonito ver as pessoas reunidas para adorar a Santa. Pelo caminho, se vê pessoas que não têm condições físicas para andar até o santuário e o esforço para concretizar a promessa. 
           No percurso, algumas casas, um rio, uma ponte e aí chega a estrada que vai até o topo da montanha. No decorrer dos passos é possível ver a serraria onde são feitas tábuas para a construção de casas, palanques para fazer cercas. É um longo trecho até chegar ao destino final. O último trajeto, próximo ao topo do morro, é consideravelmente íngreme. Quando as pessoas chegam lá, começam a patinar nas pedras soltas, umas até caem, mas, num piscar de olhos, já estão em pé novamente. Essa é a pior parte do percurso.            
        Feitas as preces, chega a hora do retorno. Na hora de descer é ainda pior, porque é preciso se segurar, pois as pedras deslizam e acabam derrubando as pessoas. Mas, nada como um bom banho para remover a sujeira. 
         Num dia de romaria estava todo o vilarejo reunido para subir ao santuário e, como um bom devoto, eu não poderia faltar. Fizemos o percurso até o topo do morro. O padre puxava a procissão e já ofegante, no final do caminho, num deslize do destino, escorregou e caiu, derrubando alguns fiéis que o seguiam. Nessa hora nem a Santa fez milagre! As pessoas não sabiam se ajudavam, se riam ou se pegavam seus aparelhos eletrônicos para registrar aquele momento inédito da procissão. 
       O padre, encabulado com o acontecido, levantou-se e sorriu discretamente. Removeu o pó da batina e deu continuidade à procissão. Inconformado com o que lhe acontecera, iniciou assim seu sermão: "Tem horas que as coisas tem que acontecer, nem sempre é o que queremos, nem sempre é o que planejamos, e a vida não é só feita de conquistas, sempre tem altos e baixos, temos que enfrentá-los para conseguir chegar onde queremos." 
        E foi nesse pensamento que, por muitos anos, ele puxou a procissão, seguido pelos fiéis que aprenderam a lição.

Júlia Gabriela Moterle
9º ano