1 – COMPROMETIDA (Noivos)
Ninguém está te encarando, eu prometi a mim mesma. Ninguém está te encarando.
Ninguém está te encarando.
Mas, porque eu não poderia mentir de maneira convincente nem pra mim mesma, eu tive
que verificar.
Enquanto eu sentei esperando pelas três luzes do semáforo ficarem verdes, eu espreitei à
direita – em sua mini-van, Senhora Weber tinha girado todo o seu torso na minha direção. Seus
olhos perfuraram os meus e eu me acovardei, imaginando o porquê que ela não desviava o olhar
ou se sentia envergonhada. Ainda era considerado rude encarar as pessoas, não é? Isso não se
aplica mais a mim?
Então eu recordei que estas janelas eram tão escuras que ela provavelmente não tinha idéia
se era eu mesma que estava aqui dentro, não imaginando que eu notei seu olhar. Eu tentei me
confortar com o fato de que ela não estava realmente me encarando, e sim olhando somente o
carro.
Meu carro. Suspiro.
Eu olhei de relance à esquerda e gemi. Dois pedestres estavam congelados na calçada,
perdendo sua chance de atravessar a rua enquanto encaravam. Atrás deles, o Sr. Marshall
observava bobamente através da janela de vidro de sua pequena loja de souvenir. Pelo menos ele
não pressionou seu nariz no vidro. Por enquanto.
A luz ficou verde e, na minha pressa para escapar, eu pisei no acelerador sem pensar – do
jeito que normalmente eu teria feito para fazer meu antigo Chevy andar.
Motor resmungando como uma pantera de caça, o carro deu um solavanco para frente tão
rápido que meu corpo bateu no assento de couro preto e meu estômago se aplanou contra minha
espinha.
”Arg!”. Eu ofeguei enquanto eu tateava o freio. Mantendo minha cabeça, eu meramente bati
no pedal. O carro balançou a uma paralisação absoluta de qualquer maneira.
Eu não agüentaria olhar em volta para ver a reação. Se houvesse alguma dúvida sobre quem
estava dirigindo o carro, agora havia desaparecido. Com o dedo do pé do meu sapato, eu
gentilmente cutuquei o acelerador para baixo por meio milímetro e o carro disparou para frente
outra vez.
Eu tentei alcançar meu objetivo, o posto de gasolina. Se eu não estivesse gastando tanta
gasolina, eu não teria vindo para a cidade de jeito nenhum. Eu estava sem um monte de coisas
esses dias, como... (?) e cadarços, para evitar gastar tempo em público.
Se movendo como se eu estivesse em uma corrida, eu abri o porta-malas, tirei a tampa fora,
tirei o ticket impresso e coloquei o bocal no tanque em segundos. É claro que não havia nada que
eu pudesse fazer para que os números no calibre se movessem mais rapidamente. Eles (?) com
muita preguiça, quase como se eles estivessem fazendo isso só pra me irritar.
Não estava claro – um dia típico de garoa em Forks, Washington – mas eu ainda sentia
como se um projetor de luz estivesse apontando em mim, chamando a atenção para o delicado
anel na minha mão esquerda. Em momentos como esse, sentindo os olhos nas minhas costas,
parecia que o anel estava brilhando como um letreiro de néon: Olhe para mim, olhe para mim.
Era estupidez ser tão auto-consciente, e eu sabia disso. Além de meu pai e minha mãe, eu
realmente me importava com o que as pessoas diziam do meu noivado? Sobre o meu novo carro?
Sobre a minha misteriosa aprovação na faculdade Ivy League? Sobre o brilhante cartão de crédito
preto que estava no meu bolso de trás agora mesmo?
- É, quem se importa com o que eles pensam - eu murmurei sob a minha respiração.
- Um, senhorita? - uma voz de homem chamou.
Eu me virei, mas daí desejei não ter feito isso.
Dois homens estavam ao lado de uma exagerada caminhonete com novos caiaques presos
no topo. Nenhum deles estava olhando para mim; os dois estavam encarando o carro.
Pessoalmente, eu não entendia. Mas eles, eu estava orgulhosa que eu podia diferenciar
entre os símbolos de Toyota, Ford e Chevy. Esse carro era preto, lustroso, polido e bonito, mas
era apenas um carro para mim.
- Desculpe-me por te incomodar, mas você poderia me dizer que tipo de carro que você está
dirigindo? - o mais alto perguntou.
- Um, um Mercedes, certo?
- Sim - o homem disse educadamente enquanto seu amigo mais baixo virou os olhos com a
minha resposta. - Eu sei. Mas, eu estava imaginando, isso é... Você está dirigindo um Mercedes
Guardian? - O homem disse o nome com reverência. Eu tive a sensação que esse cara iria se dar
bem com Edward, meu... meu noivo (ainda não dava para escapar dessa verdade com o
casamento a apenas alguns dias). - Eles não deveriam estar disponíveis na Europa ainda - o
homem continuou, - Sem mencionar isso.
Enquanto seus olhos traçaram o contorno do meu carro – não pareceu muito diferente de
nenhum outro Mercedes sedan para mim, mas o que eu sabia? – eu contemplava brevemente
meus problemas com palavras como noivo, casamento, marido, etc.
Eu apenas não conseguia encaixar tudo isso na minha cabeça.
Em contrapartida, eu encolhia a cada pensamento de vestidos brancos macios e buquês.
Mas mais que isso, eu não conseguia reconciliar um sério, respeitável, tolo conceito como marido
com a minha idéia da de Edward. Era como jogar um arcanjo como um contabilista; eu não
conseguia visualizar ele em nenhum lugar-comum.
Como sempre, tão logo eu começava a pensar em Edward, eu me pegava tendo um giro
tonto de fantasias. O estranho teve que limpar sua garganta para ter minha atenção; ele ainda
aguardava uma resposta sobre a fabricação do carro e o modelo.
- Eu não sei - eu disse a ele honestamente.
- Você se importa se eu tirasse uma foto dele?
Me levou um segundo pra processar isso. - Sério? Você quer tirar uma foto do carro?
- Claro, ninguém vai acreditar em mim se eu não tiver provas.
- Um. Okay. Tudo bem.
Eu tirei gentilmente o bocal e rastejei para o assento da frente para me esconder enquanto o
entusiasta tirou uma enorme câmera que parecia profissional de fora da sua mochila. Ele e seu
amigo se revesaram para posar no capô e depois foram tirar fotos da parte de trás.
- Eu sinto falta da minha caminhonete - eu choraminguei para mim mesma.
Muito, muito conveniente - conveniente demais - a minha picape dar seu último suspiro
poucas semanas depois de Edward e eu concordar com nosso torto compromisso, um dos detalhes
sendo que seria permitido que ele substituísse minha picape quando essa morresse. Edward jurou
que isso já era esperado, minha picape teve uma longa vida, uma vida cheia e morreu de causas
naturais. Segundo ele. E, é claro, eu não tinha como verificar a história dele ou como trazer minha
picape de volta a vida sozinha. Meu mecânico favorito - eu congelei esse pensamento, recusandome
a deixar que se concluísse. Ao invés disso, fiquei escutando as vozes dos homens do lado de
fora, abafadas pelo vidro do carro.
- Usou um lança chama nele no vídeo da internet. Nem fez bolha na tinta.
- É claro que não. Você poderia passar com um tanque em cima desse belezinha. Nem tem
mercado pra isso aqui. Foi feita mesmo pros diplomatas, traficantes de arma e de drogas do
Oriente Médio.
- Você acha que ela é algo assim? - o mais baixo perguntou numa voz suave. Eu abaixei a
cabeça.
- Hmmm - disse o alto - Talvez. Não posso imaginar porque você precisaria de vidro a prova
de mísseis e 2 toneladas de armadura por aqui. Deve estar indo pra algum lugar mais perigoso.
Armadura. 2 toneladas de armadura. E vidro à prova de míssel? Legal. O que aconteceu com
o velho vidro à prova de balas?
Bom, pelo menos fazia sentido - se você tivesse um senso de humor negro.
Não que não esperasse que o Edward tiraria vantagem do nosso acordo, pra pesá-lo pro
lado dele de forma que eu recebesse mais que ele receberia. Eu havia concordado que ele trocaria
minha picape, sem imaginar que este momento chegaria tão rápido, claro. Quando fui forçada a
admitir que minha picape tinha virado não mais que um tributo sem vida pra chevrolets clássicos,
eu sabia que a idéia dele de troca seria algo pra me deixar envergonhada. Me fazer o foco de
olhares e cochichos. Eu estava certa sobre esta parte. Mas nem nos meus sonhos mais obscuros
eu tinha previsto que ele me daria dois carros.
O carro pra "antes". Ele me disse que era um empréstimo e prometeu que devolveria após o
casamento. Isso não tinha feito nenhum sentido pra mim.
Até agora.
Ha ha. Porque eu era um humano tão frágil, propenso a acidentes, vítima da minha própria e
perigosa má sorte, aparentemente eu precisava de um carro resistente à tanques pra me manter
segura. Hilário. Eu tinha certeza que ele e seus irmãos tinham adorado rir às minhas custas.
Ou talvez, só talvez, uma vozinha sussurrou na minha cabeça, não é uma piada, boba.
Talvez ele realmente esteja preocupado contigo. Não seria a primeira vez que ele teria exagerado
tentando me proteger.
Eu suspirei.
Eu não tinha visto o carro pra "depois". Estava escondido embaixo de uma lona no canto
mais fundo da garagem dos Cullen. Eu sabia que a maioria das pessoas já teriam espiado, mas eu
realmente não queria saber.
Provavelmente não teria armadura - porque eu não precisaria disso após a lua de mel.
Indestrutibilidade virtual era apenas uma das vantagens que eu não podia esperar pra ter. As
melhores partes de ser uma Cullen não eram os carros caros e os cartões de crédito
impressionantes.
- hei - o homem alto chamou, fazendo concha com as mãos contra o vidro pra tentar me ver
dentro, - já terminamos. Valeu!
- Sejam bem vindos - eu respondi, e fiquei tensa quando dei partida no motor e pressionei o
pedal - bem gentilmente - pra baixo...
Não importava quantas vezes eu tinha dirigido por essa estrada familiar no caminho pra
casa, eu ainda não conseguia ignorar os pôsteres molhados pela chuva de pano de fundo. Cada
um deles, pregados em postes de telefone e colados em placas, era um tapa fresco na minha cara.
Um tapa na cara bem merecido.
Minha mente foi sugada de volta a lembrança. Eu a interrompi imediatamente, antes. Eu não
conseguia evitar nessa estrada. Não com as fotos do meu mecânico favorito passando por mim em
intervalos regulares.
Meu melhor meu amigo. Meu Jacob.
Os pôsteres de "VOCÊ VIU ESSE MENINO?" não tinham sido idéia do pai do Jacob. Foram
idéia do meu pai, Charlie, que imprimiu e espalhou os folhetos por toda cidade. E não só em
Forks, mas em Port Angeles e Sequim e Hoquiam e Aberdeen e todas as outras cidades da
Península Olímpica... Ele tinha verificado que toda delegacia no Estado de Washington tinha um
folheto pendurado na parede, também. Na sua própria delegacia havia um mural de cortiça inteiro
dedicado a encontrar o Jacob. Estava quase vazio, para seu desapontamento e frustração.
Meu pai estava decepcionado mais que com a falta de resposta. Ele estava mais
decepcionado com Billy, o pai de Jacob - e melhor amigo de Charlie.
Pelo Billy não estar mais envolvido com a busca pelo seu filho de 16 anos "fugitivo". Por Billy
se recusar a colocar pôsteres em La Push, a reserva na costa que era o lar de Jacob. Por ele
parecer ter aceitado o desaparecimento de Jacob, como se não tivesse nada que ele pudesse
saber. Por ele dizer, "Jacob é grande o bastante agora. Ele virá pra casa quando ele quiser".
E ele estava frustrado por eu ter tomado o partido de Billy.
Eu não tinha colocado pôsteres, tampouco. Porque eu e Billy sabíamos onde Jacob estava,
em termos gerias, e sabíamos que ninguém tinha visto esse menino.
Os pôsteres deixavam a costumeira bola na minha garganta, e as lágrimas ardentes nos
meus olhos, e eu estava agradecida que Edward estava caçando nesse sábado. Se Edward visse
minha reação, ele ia se sentir terrível, também.
É claro que tinham desvantagens de ser Sábado. Ao virar vagarosamente e com cuidado na
minha rua, eu pude ver a viatura do meu pai na entrada da garagem. Ele não tinha ido pescar de
novo hoje. Ainda chateado por causa do casamento.
Então eu não poderia usar o telefone lá dentro. Mas eu tinha que ligar...
Eu estacionei no meio fio atrás da "escultura" do chevrolet e tirei o celular que Edward tinha
me dado pra emergências do porta luvas. Disquei, deixando meu dedo no botão de "end"
enquanto o telefone tocava. Só se acaso. "Hello?" respondeu Seth Clearwater, e eu suspirei em
alívio. Eu era muito covarde pra falar com a irmã mais velha dele, Leah. A frase "arrancar minha
cabeça" não era necessariamente maneira de falar quando vinha da Leah.
- Hei, Seth, é Bella.
- Oh, hei, Bella! Como você está?
Esgasguei. Desesperada por confiança. - Bem.
- Ligando pra saber novidades?
- Você é písquico.
- Não mesmo. Não sou a Alice, você só é previsível - ele brincou. Entre os Quileutes de La
Push, só o Seth se sentia confortável pra mencionar os Cullen por nome, ainda mais brincar sobre
coisas como minha quase onisciente quase cunhada.
- Eu sei que sou. - Eu hesitei um minuto. - Como está ele?
Seth suspirou. - O mesmo de sempre. Ele não fala, apesar da gente saber que ele ouve a
gente. Ele tá tentando não pensar como humano, você sabe. Usando só seus instintos.
- Você sabe onde ele está agora?
- Em algum lugar do norte do Canadá. Não posso te falar em que província. Ele não presta
muita atenção as divisas de estados.
- Alguma dica de que ele possa...
- Ele não está voltando pra casa, Bella. Desculpe.
Eu engoli. - Tudo bem, Seth. Eu sabia antes de perguntar. Não consigo evitar torcer.
- É. Todos nós nos sentimos igual.
- Obrigada por me aturar, Seth. Sei que os outros devem ser difíceis contigo.
- Eles não são seus grandes fãs - ele concordou animado. - Meio ridículo, eu acho. Jacob fez
sua escolha, você fez a sua. Jake não gosta da atitude deles a respeito. É claro que ele não tá
muito feliz que você tá checando nele, tampouco.
Eu exclamei. - Eu pensei que ele não tava falando com você?
- Ele não pode esconder tudo da gente, por mais que esteja tentando.
Então Jacob sabia que eu estava preocupada. Eu não sabia como me sentia a respeito. Bom,
pelo menos ele sabia que eu não tinha simplesmente ido de encontro ao pôr do sol e esquecido
dele completamente. Ele devia imaginar que eu era capaz disso.
- Então a gente se vê... no casamento. - Eu disso, forçando a palavra entre meus dentes.
- É, eu e minha mãe vamos estar lá. Foi legal você convidar a gente.
Eu sorri pelo entusiasmo em sua voz. Apesar da idéia de convidar os Clearwater tivesse
partido do Edward, eu estava grata por ele ter pensado nisso. Ter o Seth lá seria bom - uma
ligação, por mais tênue, com meu padrinho desaparecido. - Não seria o mesmo sem vocês.
- Diga ao Edward que eu disse oi, tá?
- Pode deixar.
Eu balancei a cabeça. A amizade que tinha nascido entre Edward e Seth era algo que ainda
embaralhava minha mente. Era prova, no entanto, de que as coisas não tinham que ser desse
jeito. Que lobisomens e vampiros podiam se dar muito bem, obrigado, se eles tentassem.
Nem todo mundo gostava dessa idéia.
- Ah - Seth disse, a voz dele subindo algumas notas. - Er, Leah chegou.
- Oh! Tchau!
O telefone ficou mudo. Eu o deixei no banco do passageiro e me preparei mentalmente pra
entrar em casa, onde Charlie estaria esperando.
Meu pobre pai era muito pra lidar agora.
A fuga de Jacob era somente um dos problemas nas suas carregadas costas. Ele estava
quase tão preocupado comigo, sua acabada-de-virar-adulta filha que estava pra virar Sra. em dali
uns poucos dias.
Eu caminhei devagar pela fraca chuva, relembrando a noite em que nós contamos pra ele...
Com o som do carro do Charlie anunciando seu retorno, o anel de repente pesou uma
centena de libras no meu dedo. Eu queria esconder minha mão esquerda em um bolso, ou talvez
sentar nela, mas Edward com aperto firme manteve-o na parte dianteira e no centro.
- Pare de remexer-se, Bella. Por favor tente lembrar que você não está confessando um
assassinato aqui.
- É facil pra você dizer.
Eu ouvi o som sinistro das botas do meu pai ranjendo acima do chão. A chave chacoalhando
na porta já aberta. O som me lembrou daquela parte do filme quando a vítima percebe que ela
esqueceu de trancar seu cadeado...
- Relaxe, Bella - Edward susurrou, ouvindo o meu coração acelerar. A porta bateu contra a
parede, e eu vacilei como se eu fosse Tasered.
- Hey, Charlie - Edward falou inteiramente relaxado.
- Não! - eu silvei sob minha respiração.
- O quê? - Edward sussurrou de volta.
- Espere até que ele descarregue sua arma!
Edward riu e passou sua mão livre entre seus cabelos de bronze.
Charlie veio ao redor do canto, ainda no seu uniforme, ainda armado, e tentou não fazer
uma careta quando viu nós sentados juntos no sofá do amor. Ultimamente, ele tem posto muito
esforço para gostar mais do Edward. É claro, com essa revelação ele teria que acabar com seus
esforços imediatamente.
- Hey, crianças. E aí?
- Nós gostaríamos de conversar com o senhor, - Edward disse. - Nós temos algumas notícias
boas.
A expressão de Charlie foi de amigável para preta de suspeita em um segundo.
- Boas notícias? - Charlie rosnou, olhando em linha reta para mim.
- Sente-se, pai.
Ele levantou uma sobrancelha, me encarou por 5 segundos, então deitou no reclinador e
sentou para baixo da borda, suas costas estavam eretas.
- Não se esforçe muito, pai - Eu disse depois de um momento de silêncio.
- Tudo está bem.
Edward fez caretas, e eu sabia que era por causa da palavra “bem”. Ele provavelmente
usaria alguma coisa como “maravilhoso” ou “perfeito” ou “glorioso”.
- Claro que sim, Bella. Claro que sim. Se está tudo bem porque você está suando como um
porco?
- Eu não estou suando - eu menti.
Eu me desviei de sua careta penetrante, me apertando contra Edward, e instintivamente
passei a mão direita pela minha testa para apagar as evidências.
- Você está grávida! - Charlie explodiu. - Você está grávida, não está?
Apesar da pergunta provavelmente ser pra mim, agora ele estava olhando pra Edward, e eu
podia jurar que vi a mão dele se fechando na arma.
- Não! É claro que eu não estou! - Eu queria dar uma cotovelada nas costelas de Edward,
mas eu sabia que isso ia me deixar com um hematoma. Eu disse a Edward que as pessoas iam
imediatamente chegar a essa conclusão! Que outra razão possível pessoas sãs se casariam aos
dezoito anos? (A resposta dele a isso me fez revirar os olhos. Amor. Certo.) O olhar de Charlie
limpou um pouco. Geralmente ficava muito claro no meu rosto quando eu estava falando a
verdade, e agora ele acreditava em mim.
- Oh, desculpe.
- Desculpas aceitas.
Houve uma longa pausa. Depois de um momento eu percebi que todos estavam esperando
que eu dissesse alguma coisa. Eu olhei pra Edward, paralisada de pânico. Não tinha jeito de me
fazer botar as palavras pra fora. Ele sorriu pra mim e enquadrou os ombros e então se virou para
meu pai.
- Charlie, eu sei que as coisas estão fora de ordem. Tradicionalmente, eu devia ter te pedido
antes. Eu não tenho a intenção de te desrespeitar, mas já que Bella já disse sim e eu não quero
menosprezar a escolha dela nesse assunto, ao invés de te pedir a mão dela, eu te peço sua
benção. Nós vamos nos casar, Charlie. Eu a amo mais do que tudo no mundo, mais do que a
minha própria vida e – graças a algum milagre – ela me ama da mesma forma. Você nos dará a
sua benção?
Ele soou tão seguro, tão calmo. Por apenas um instante, escutando àquela absoluta certeza
na voz dele, eu experimentei um raro momento de insight. Eu pude ver, rapidamente a forma que
todos olhavam pra ele. Durante um bater de coração, esta noticia fez total sentido.
E ai eu vi o rosto inexpressivo de Charlie, os olhos dele agora estavam grudados no anel.
Eu prendi a respiração enquanto a pele dele mudava de cor – de normal a vermelha, de
vermelha a roxa, de roxa a azul, eu comecei a me levantar – eu não sei o que eu estava
planejando fazer; talvez fazer a manobra Heimlich pra ter certeza de que ele não estava
engasgando – mas Edward apertou minha mão e murmurou “Dê um minuto a ele” tão baixinho
que só eu pude ouvir.
Dessa vez o silêncio foi muito mais longo. Então, gradualmente, tom por tom, a cor de
Charlie voltou ao normal. Os lábios dele se comprimiram, e suas sobrancelhas se uniram; eu
reconheci sua expressão “pensando profundamente”. Ele estudou nós dois por um longo
momento, e eu senti Edward relaxar ao meu lado.
- Acho que não estou tão surpreso - Charlie murmurou. - Eu sabia que teria eu lidar com isso
em algum momento em breve.
Eu soltei o ar.
- Você está certa disso? - Charlie quis saber, me encarando.
- Eu tenho cem por cento de certeza de Edward - eu o assegurei sem perder tempo.
- Mesmo assim, se casar? Pra que a pressa? - Ele me olhou com suspeitas novamente.
A pressa era porque eu estava me aproximando dos dezenove anos a cada dia que se
passava, enquanto Edward ficava congelado em sua perfeição dos dezessete anos. Não que esse
fato se associasse a casamento no meu livro, mas o casamento era necessário devido a um
delicado e complicado compromisso que Edward e eu temos pra chegar a esse ponto, o tijolo que
leva a qualquer transformação de mortal a imortal.
Essas eram coisas que eu não podia explicar a Charlie.
- Nós estamos indo para Dartomouth juntos no outono, Charlie - Edward lembrou ele. - Eu
gostaria de fazer isso, bem, da forma correta. Foi assim que eu fui criado. - Ele encolheu os
ombros.
Ele não estava exatamente exagerando; eles tinham moral antiquada durante a primeira
guerra mundial.
A boca de Charlie torceu para um lado. Procurando por alguma coisa com a qual discutir.
Mas o que ele podia dizer? Eu preferiria que você vivesse pecaminosamente primeiro? Ele era um
pai; suas mãos estavam atadas.
- Eu sabia que isso aconteceria - ele murmurou pra si mesmo, fazendo uma careta. Então,
de repente, seu rosto ficou perfeitamente suave e desanuviado.
- Papai? - Eu perguntei ansiosamente. Eu olhei pra Edward, mas eu também não consegui
ler seu rosto, enquanto ele olhava pra Charlie.
- Ha! - Charlie explodiu. Eu pulei no meu assento. - Ha, ha, ha!
Eu o encarei incredulamente enquanto Charlie de dobrava de tanto rir, seu corpo todo de
balançando.
Eu olhei pra Edward para ter uma tradução, mas os lábios de Edward estavam fechados com
força, como se ele mesmo estivesse tentando segurar o riso.
- Okay, está certo. - Charlie tossiu. - Se casem - Outra onda de risos o balançou. - Mas...
- Mas o quê? - Eu quis saber.
- Mas você precisa contar a sua mãe! Eu não vou dizer uma palavra a Renée! Isso é por sua
conta! - Ele explodiu em risadas escandalosas.
Eu parei com a mão na maçaneta, sorrindo. Claro, naquele tempo, as palavras dele me
aterrorizaram. O destino final; contar a Renée.
Casamento durante a juventude estava na lista negra dela acima de matar filhotes de
cãezinhos.
Quem podia ter adivinhado a reação dela? Eu não. Certamente não Charlie. Talvez Alice,
mas eu não pensei em pergunta-la.
- Bem, Bella - Renée disse depois que eu tossi e gaguejei as palavras impossíveis: Mamãe,
eu vou casar com Edward. - Eu estou um pouco aborrecida por você ter demorado tanto pra me
contar. Passagens de avião estão ficando mais caras. Ohhhh - ela temeu. - Você acha que Phil já
vai ter tirado o gesso até lá? Se ele não estiver usando terno isso vão arruinar as fotos.
- Espera um segundo, mãe - eu resfoleguei. - O que você quer dizer com esperar tanto
tempo? Eu acabei de no-no... – eu não fui capaz de botar a palavra noivar pra fora – acertar as
coisas, sabe, hoje.
- Hoje? Mesmo? Isso é uma surpresa. Eu achei...
- O que você achou? O que você achou?
Bem, quando você veio me visitar em Abril, parecia que as coisas já estavam arranjadas, se
é que você sabe o que eu quero dizer. Você não é muito difícil de ler, queridinha. Mas eu não quis
dizer nada, porque eu sabia que não tinha utilidade nenhuma. Você é exatamente como Charlie. -
Ela suspirou, resignada. - Quando você resolve uma coisa, não tem como tentar ser razoável com
você. É claro, assim como Charlie, você mantém a sua decisão também. Você não está repetindo
os meus erros, Bella. Você parece estar assustada bobinha, e eu acho que seja porque você
estava com medo de mim. - Ela gargalhou. - Ou do que eu vou pensar. E eu sei que eu disse um
monte de coisas sobre o meu casamento e a minha estupidez, e eu não vou morder minha língua,
mas você precisa entender que aquelas coisas se aplicavam especificamente a mim. Você é uma
pessoa completamente diferente de mim. Você comete os seus próprios tipos de erros, e eu tenho
certeza que você terá a sua parcela de arrependimentos na vida. Mas compromisso nunca foi o
seu problema, queridinha. Você tem uma chance melhor de fazer isso funcionar do que muitas
quarentonas que eu conheço. - Renée sorriu de novo. - Minha pequena criança de meia idade. Por
sorte, parece que você encontrou outra alma de meia idade.
- Você não está... com raiva? Você não acha que eu estou cometendo um erro gigantesco?
- Bem, eu com certeza gostaria que você esperasse mais alguns anos. Quer dizer, você acha
que eu pareço velha o suficiente pra ser uma sogra? Não responda. Mas isso não se trata de mim.
Você está feliz?
- Eu não sei. Eu estou tendo uma experiência fora do meu corpo nesse momento.
Renée gargalhou. - Ele te faz feliz, Bella?
- Sim, mas...
- Você vai querer outra pessoa algum dia?
- Não, mas...
- Mas o quê?
- Mas você não vai dizer que eu pareço uma adolescente apaixonada como qualquer outra
desde o início dos tempos?
- Você nunca foi uma adolescente, queridinha. Você sabe o que é melhor pra você.
Pelas últimas semanas, Renée mergulhou inadvertidamente em planos de casamento. Ela
passava horas todos os dias no telefone com a mãe de Edward, Esme – não havia problemas em
parentes se darem bem. Renée adorou Esme, mas também, eu duvidava que alguém pudesse
reagir de outra forma á minha adorável quase sogra.
Isso me deixou por fora. A família de Edward e a minha estavam cuidando juntas das
núpcias sem que eu tivesse que fazer nada ou saber e nem pensar demais nisso.
Charlie estava furioso, é claro, mas o lado bom era que ele não estava furioso comigo. A
traidora era Renée. Ele estava contando com ela pra ser tirana. O que ele podia fazer agora,
quando a sua última ameaça – contar a mamãe – acabou dando em nada? Ele não tinha nada, e
sabia disso. Então ele ficava vagando em casa, murmurando coisas sobre não se poder mais
confiar em ninguém nesse mundo...
- Pai? - Eu chamei enquanto abria a porta da frente. - Estou em casa.
- Espere, Bella, fique bem ai.
- Huh? - Eu parei automaticamente.
- Me dê um segundo. Ouch, você conseguiu, Alice.
Alice?
- Desculpa, Charlie - a voz alegre de Alice respondeu. - Como está?
- Eu estou sangrando.
- Você está bem. A pele não foi ferida, confie em mim.
- O que está acontecendo? - Eu quis saber, hesitando na entrada.
- Trinta segundos, por favor, Bella - Alice me disse. - Sua paciência será recompensada.
- Humph - Charlie adicionou.
Eu bati o pé, contando cada batida. Antes de ir até a nossa sala de estar.
- Oh - eu perdi o fôlego. - Aw, pai. Você está...
- Boboca? - Charlie interrompeu.
- Eu estava pensando em algo mais parecido com ‘elegante’.
Charlie ruborizou. Alice pegou o cotovelo dele e o rodou lentamente pra que ele mostrasse o
terno cinza pálido.
- Pára com isso, Alice. Eu pareço um idiota.
- Ninguém vestido por mim fica parecendo um idiota.
- Ela está certa, pai. Você está fabuloso! Qual é a ocasião?
Alice revirou os olhos. - É a última prova de roupa. Pra vocês dois.
Eu tirei meus olhos da elegância não habitual de Charlie e pela primeira vez vi a bolsa branca
estufada deitada cuidadosamente no sofá.
- Ahhh.
- Vá pro seu cantinho feliz, Bella. Não vai demorar.
Eu respirei fundo e fechei os olhos. Mantendo-os fechados, eu procurei o meu caminho
subindo as escadas até o meu quarto. Eu fiquei de lingerie e estiquei os braços.
- Parece até que eu estou enfiando farpas de bambu embaixo das suas unhas. - Alice
murmurou pra si mesma enquanto me seguia.
Eu não prestei atenção nela. Eu estava no meu cantinho feliz.
No meu cantinho feliz, toda a bagunça do casamento estava acabada e pronta. Atrás de
mim. Já reprimida e esquecida.
Nós estávamos sozinhos, só Edward e eu. A paisagem era confusa e estava frequentemente
em fluxo – ela passava de uma floresta nebulosa pra uma cidade coberta de nuvens pra uma noite
ártica – porque Edward estava mantendo o local da nossa lua de mel em segredo pra mim. Mas eu
não estava particularmente preocupada com essa parte.
Edward e eu estávamos juntos, e eu tinha cumprido a minha parte do compromisso
perfeitamente. Eu casei com ele. Essa era a parte maior. Mas eu também aceitei todos os seus
presentes ultrajantes e me registrei, mesmo que futilmente, pra comparecer na Universidade de
Dartmouth no outono. Agora era a vez dele.
Antes de me transformar em vampira – a grande promessa dele – ele tinha estipulado mais
uma condição pra mim.
Edward tinha uma preocupação obsessiva com as coisas humanas que eu estaria deixando
pra trás, as experiências que ele não queria que eu perdesse. Mas havia apenas uma experiência
na qual eu estava insistindo. É claro que essa era a que ele queria que eu tivesse esquecido.
No entanto, aqui estava o problema. Eu sabia no que eu me transformaria quando estivesse
tudo acabado. Eu vi vampiros recém-nascidos em primeira mão, e eu tinha ouvido todas as
histórias da minha futura família sobre a selvageria dos primeiros dias. Por vários anos, minha
primeira personalidade ia ser “sedenta”. Ia levar algum tempo até que eu fosse eu mesma
novamente. E mesmo quando eu estivesse sob controle de mim mesma, eu jamais me sentiria
exatamente da forma que me sinto agora.
Humana... e apaixonadamente apaixonada.
Eu queria a experiência completa antes de trocar meu corpo quente, quebrável e guiado por
hormônios por algo lindo, forte... e desconhecido. Eu queria uma lua de mel de verdade com
Edward. E a despeito do perigo ao qual ele achava que ia me submeter, ele concordou em tentar.
Eu estava apenas vagamente cônscia da presença de Alice e do cetim passando pelo meu
corpo. Durante aquele momento, eu não me importei com o que a cidade inteira estava pensando
de mim. Eu não pensava no espetáculo que teria que estrelar em breve. Eu não me importei em
tropeçar na minha grinalda e rir na hora errada ou em ser jovem demais ou a multidão me
encarando e nem sequer no assento vazio onde o meu melhor amigo estaria.
Eu estava com Edward no meu cantinho feliz.
2 – UMA LONGA NOITE
- Eu já sinto a sua falta.
- Eu não preciso ir. Posso ficar...
- Mmm...
Houve silêncio por um longo tempo, somente o som de meu coração batendo acelerado e o
sussurro de nossos lábios se movendo sincronizados.
As vezes era tão fácil esquecer que eu estava beijando um vampiro. Não porque ele
parecesse comum e humano- I nunca poderia esquecer que estava segurando mais do que um
anjo em meus braços- mas porque ele me fazia sentir que não havia nada igual a sensação de ter
seus lábios em meus lábios, em meu rosto, minha garganta... Ele dizia que já era passado a
tentação que meu sangue lhe causava, que a idéia de me perder era mais forte que isso. Mas eu
sabia que o cheiro de meu sangue ainda lhe causava dor, queimava em sua garganta como se ele
estivesse inalando fogo.
Eu abri meus olhos e encontrei os dele abertos também, fixados em meu rosto. Não fazia
sentido ele me olhar daquele jeito. Como se eu fosse o prêmio ao invéz da ganhadora sortuda.
Nós nos encaramos por um momento, seus olhos dourados estavam tão profundos que era
quase como se eu pudesse ver sua alma. Parecia bobo que justamente isso- a existência se sua
alma- seja uma duvida, mesmo ele sendo um vampiro.
Ele tinha a alma mais bonita, mas do que sua mente brilhante ou seu rosto incomparável e
seu glorioso corpo.
Ele olhou de volta para mim, como se ele também pudesse ver minha alma, e estivesse
gostando do que via.
Ele não podia ver dentro de minha mente, pensando bem, não da maneira que ele via a dos
outros. Quem saberia o por que- algum defeito em meu cérebro que me tornava imune a todos os
extraordinários e assustadores poderes que alguns imortais possuem. (somente minha mente era
imune, meu corpo ainda era uma vitima das habilidades dos vampiros com poderes diferentes dos
de Edward). Mas eu era seriamente grata a esse “defeito” que mantinham meus pensamentos em
segredo. Era muito constrangedor sequer pensar na possibilidade.
Puxei seu rosto mais uma vez para perto do meu.
- Definitivamente vou ficar! - ele murmurou um tempo depois.
- Não, não! É sua despedida de solteiro, você tem que ir.
Eu disse as palavras, mas meus dedos se enroscaram em seus cabelos cor de bronze, minha
mão esquerda apertando suas costas. Seus dedos frios acariciaram meu rosto.
- Despedidas de solteiros são para aqueles que estão tristes com o fim de seus dias de
solteiro. Eu não vejo a hora que eles acabem. Então não há razão para que eu vá.
- Verdade - Eu disse respirando na pele gelada de sua garganta.
Isso era muito perto do que seria meu cantinho feliz. Chalie dormia profundamente em seu
quarto, o que era quase o mesmo que estar sozinha. Nós estamos encolhidos em minha pequena
cama, nossos corpos o mais juntos possível, apesar do grosso cobertor em que eu estava enrolada
como um casulo. Eu odiava a necessidade do cobertor, mas o romance acabava quando meus
dentes começavam a bater. Charlie iria perceber se eu ligasse o aquecedor em Agosto...
Pelo menos, se houvesse algo ruim, a camisa de Edward estava no chão. Eu nunca superei o
choque de como seu corpo era perfeito- pálido e gelado como mármore. Eu corri minha mão por
seu peito nu, passando por sua barriga perfeitamente rígida, passeando. Ele tremeu levemente, e
seus lábios encontraram os meus novamente. Cuidadosamente a ponta de minha língua traçou
seus lábios encerados, e ele suspirou.
Seu hálito me invadiu – frio e delicioso- por todo o meu rosto.
Ele começou a recuar- esta era sua reação automática toda vez que achava que tinha ido
longe demais, seu reflexo toda vez que ele queria mais. Edward passou toda sua vida rejeitando
qualquer tipo de contato físico. Eu sei que para ele era assustador tentar mudar seus hábitos
agora.
- Espere - eu disse agarrando seus ombros e o abraçando mais perto. Eu passei minha perna
que estava livre ao redor de seu quadril. - A prática leva a perfeição.
Ele riu. - Bem, devemos estar bem perto da perfeição nesse ponto, não acha? Você dormiu
alguma noite no ultimo mês?
- Mas esse é o ensaio do vestido - Eu relembrei ele. - E nós só praticamos algumas cenas.
Não temos tempo a perder.
Eu pensei que ele fosse rir, mas ele não respondeu, e seu corpo endureceu de um nervoso
repentino. O dourado em seus olhos pareceu endurecer de liquido para sólido.
Eu pensei no que havia dito e tentei entender o que ele havia pensado.
- Bella... - ele sussurrou.
- Não comece com isso de novo - eu disse - Trato é trato.
- Eu não sei. - É muito difícil se concentrar quando você está comigo desse jeito. Eu - Eu não
consigo pensar direito. Eu não vou conseguir me controlar. Você vai se machucar.
- Eu vou ficar bem.
- Bella...
- Shh... - eu pressionei meus lábios nos dele para parar com o ataque de pânico. Eu já havia
ouvido aquilo antes. Ele não ia desistir do acordo. Não depois de insistir que eu casasse com ele
primeiro.
Ele me beijou de volta por um momento, mas eu pude perceber que ele não estava com
tanto entusiasmo como antes. Preocupado, sempre preocupado. Como seria diferente quando ele
não tivesse que se preocupar mais comigo. O que ele fará em seu tempo livre? Terá que arrumar
um hobby novo!
- Como estão seus pés? - ele perguntou
Sabendo que ele não falava no sentido literal eu respondi - Torrando de tão quentes.
- Mesmo? Não está mudando de idéia? Ainda não é tarde pra desistir.
- Você está tentando me fazer desisitir?
Ele riu silenciosamente. - Só para ter certeza. Não quero que você faça nada de que não
tenha certeza.
- Tenho certeza sobre você. Com o resto eu posso viver.
Ele hesitou e eu imaginei se devia fechar a minha boca.
- Você consegue? - ele disse quieto. - Eu não me refiro ao casamento – eu sei que você vai
sobreviver apesar de não concordar- mas e depois... E Renée? E Charlie?
- Eu vou sentir falta deles. - Mais do que eles de mim, mas eu não quis dar a ele esse tipo
de detalhe.
- Angela e Ben, Jéssica e Mike.
- Vou sentir falta dos meus amigos também. - Eu sorri para a escuridão. - Especialmente
Mike! Oh Mike! Como vou sobreviver!
Ele grunhiu.
Eu ri, mas logo fiquei séria novamente. - Edward nós já falamos sobre isso. Eu sei que vai
ser difícil, mas é o que eu quero. Eu quero você, e quero para sempre. Uma vida não é suficiente
para mim.
- Congelada para sempre aos dezoito – ele sussurrou.
- Todo sonho de mulher se torna realidade - eu provoquei.
- Nunca mudando, nunca indo para frente.
- O que isso significa?
Ele respondeu devagar. - você se lembra quando contamos para Charlie a respeito do
casamento? Ele pensou que você estava... grávida?
- E ele pensou em atirar em você. - Eu disse com uma risada - Admita, por um momento ele
considerou isso.
Ele não respondeu.
- O que é Edward?!
- Eu só queria...bem, queria que ele estivesse certo.
- Uhh - eu estremeci.
- Que houvesse alguma maneira que isso pudesse acontecer. De que corrêssemos esse
risco. Eu odeio tirar isso de você também.
Eu precisei de um momento para responder. - Eu sei o que estou fazendo.
- Como você pode saber Bella? Olhe para minha mãe e minha irmã. Não é um sacrifício tão
fácil quanto você imagina.
- Esme e Rosalie conseguiram superar isso. Se isso se tornar um problema podemos fazer o
que Esme fez – nós vamos adotar!
Ele suspirou e, em seguida, sua voz era feroz. - Isso não é certo! Não quero que você tenha
que fazer sacrifícios por mim. Eu quero dar-lhe coisas, não tirar coisas de você. Eu não quero
roubar o seu futuro. Se eu fosse humano-
Eu coloquei minha mão sobre seus lábios. - Você é o meu futuro. Parar agora. Não se
deprima, ou eu irei chamar seus irmãos para virem e pegar você. Talvez você precise de uma festa
de despedida.
- Desculpe-me. Estou deprimido, não é? Devem ser os nervos.
- Seus pés estão frios (OBS. Pés frios = Estar amarelando)?
- Não é nesse sentido. Eu tenho esperado um século para casar com você, Senhorita Swan.
A cerimônia de casamento é a única coisa que eu mal posso esperar.
Ele suspendeu o pensamento. - Oh, por tudo que é mais sagrado!
- O que houve?
Ele rangeu os dentes. - Você não precisa ligar para os meus irmãos. Aparentemente eles não
vão me deixar escapar essa noite.
Eu o abracei mais forte, mas depois soltei. Eu não tinha a menor pretensão de ganhar uma
guerra contra Emmet. - Divirta-se.
Houve um ruído através da janela. Alguém estava passando suas unhas de propósito no
vidro para fazer um barulho horroroso de cobrir os ouvidos e arrepiar os cabelos. Eu dei de
ombros.
- Se você não botar o Edward para fora – Emmet – ainda invisível na noite – ameaçou - nós
vamos entrar pra pegar ele.
- Vá - Eu ri – Antes que eles quebrem a minha casa.
Edward rolou seus olhos e em um único movimento se colocou de pé e com outro recolocou
sua camisa. Ele se abaixou e beijou minha testa.
- Vá dormir. Você vai dar um grande dia amanhã.
- Obrigada! Isso realmente vai me acalmar!
- Te vejo no altar.
- Eu vou ser a que vai estar de branco! - Eu sorri pensando em como isso soava irônico.
Ele riu. - Muito convincente. - E então ele foi. Passando pela minha janela mais rápido do
que eu podia ver.
Lá fora houve um barulho abafado e eu ouvi Emmet xingar.
- É melhor vocês não trazerem ele de volta muito tarde - eu murmurei sabendo que eles
ouviriam.
E então o rosto de Jasper apareceu em minha janela, seus cabelos loiros cor de mel
reluzindo a luz da lua que passava pelas nuvens.
- Não se preocupe Bella. Vamos trazer ele de volta com tempo de sobra!
Eu estava subitamente muito calma, e todas as minhas hesitações pareciam sem
importância. Jasper era, na sua própria maneira, tão talentoso como Alice com suas previsões
sobrenaturalmente exatas. Os poderes mediúnicos de Jasper era uma atituda maior do que o
futuro, e era impossível resistir à sensação da maneira como ele queria que você se sentisse.
Eu sentei rapidamente, ainda enrolada nos cobertores. - Jasper? O que vampiros fazem em
despedidas de solteiro? Vocês não vão leva-lo a um clube de strip, vão?
- Não lhe diga nada! - Emmett grunhiu para cima. Havia um outro som, e Edward riu
discretamente.
- Relaxe - Jasper disse-me - e foi o que fiz. - Nós Cullens temos a nossa própria versão.
Apenas alguns leões da montanha, um casal de ursos cinzentos. Geralmente uma noitada
ordinária.
Eu me pergunto se alguma vez serei capaz de ouvir de forma cavalheiresca sobre as dietas
dos vampiros "vegetarianos".
- Obrigada, Jasper.
Ele piscou e saiu de vista.
Estava completamente silencioso lá fora. Os roncos abafados de Charlie vibravam através
das paredes.
Eu deitei de volta no meu travesseiro, adormecendo agora. Eu observei as paredes do meu
pequeno quarto, branqueada palidamente pelo luar, sobre as pálpebras pesadas.
A minha última noite no meu quarto. A minha última noite como Isabella Swan. Amanhã à
noite, eu seria Bella Cullen. Apesar de todo o calvário do casamento ser um espinho ao meu lado,
eu tinha de admitir que eu gostei de como soava.
Eu deixei a minha mente vagueiar impassível por um momento, esperando cair no sono.
Mas, depois de alguns minutos, encontrava-me mais alerta, a ansiedade crescente de volta para o
meu estômago, embrulhando-se em posições desconfortáveis. A cama parecia muito suave, muito
quente sem Edward. Jasper estava longe, e toda a paz, e sentimentos relaxantes foram com ele.
Ela iria ter um longo dia amanhã.
Eu estava ciente de que a maioria dos meus medos eram estúpidos - eu só tinha que tirá-los
de mim. Atenção era uma parte inevitável da vida. Eu não podia estar sempre misturada com a
paisagem. No entanto, eu tenho alguns preocupações específicas que eram completamente
válidas.
Primeiro, houvia a cauda de vestidos de casamento. Alice claramente tinha deixado seu
sentido artístico dominar sobre aspectos práticos disso. Manobrar nas escadas dos Cullens salto e
uma cauda pareceu impossível. Eu deveria ter praticado.
Depois, tinha a lista de convidados.
A família de Tanya, o clã Denali, estariam chegando antes da cerimônia.
Seria delicado ter a família de Tanya no mesmo quarto com os nossos convidados da reserva
Quileute, o pai de Jacob e os Clearwaters. O Denalis não eram fãs dos lobisomens. Na verdade, a
irmã de Tanya, Irina, não ia vir para o casamento por nada. Ela ainda carregava uma vingança
contra os lobisomens por matarem seu amigo Laurent (exatamente como ele estava prestes a me
matar). Graças a essa ressentimento, os Denalis tinham abandonado a família de Edward na sua
pior hora de necessidade. Foi a desagradável aliança com os lobos Quileute que salvou as nossas
vidas, quando a horda de vampiros recém-nascidos atacaram...
Edward tinha me prometido que não seria perigoso ter os Denalis perto dos Quileutes. Tanya
e toda sua família - exceto Irina - sentiam-se horrívelmente culpados por esse abandono. Uma
trégua com os lobisomens era um pequeno preço para compensar um pouco desta dívida, um
preço que estavam dispostos a pagar.
Eu nunca tinha visto Tanya antes, mas eu tinha certeza que conhecê-la não seria uma
experiência prazeirosa para o meu ego. Uma vez, provavelmente antes de eu ter nascido, ela tinha
feito seu jogo para Edward - não que eu culpe a ela ou alguém por tê-lo desejado. Mesmo assim,
ela deveria ser extremamente linda e magnifíca. Mesmo que Edward claramente - se
inconcebivelmente - tenha preferido a mim, eu não seria capaz de ajudar fazendo comparações.
Eu tinha rosnado um pouco até Edward, que sabia a minha fraqueza, me fez sentir culpada.
- Nós somos a coisa mais próxima que eles têm de uma família, Bella - ele me lembrou.
- Eles ainda se sentem como orfãos, você sabe, mesmo depois de todo esse tempo.
Então eu admiti, escondendo a minha careta.
Tanya tinha uma grande família agora, quase tão grande quanto os Cullens. Eles eram em
cinco; Tanya, Kate e Irina haviam entrado através de Carmen e Eleazer de uma forma bem
parecida como Alice e Jasper entraram para os Cullens, todos eles levados pelo desejo de viver
com mais compaixão do que os vampiros normais fizeram.
Mesmo com toda a companhia, entretanto, Tanya e suas irmãs ainda eram sozinhas. Ainda
estavam de luto. Porque há muito tempo atrás, elas também tiveram uma mãe.
Eu conseguia imaginar o vazio que a perda devia ter deixado, mesmo depois de milhares de
anos. Eu tentei imaginar a família Cullen sem o seu criador, seu centro e seu guia - seu pai,
Carlisle. Eu não consegui.
Carlisle havia explicado a história de Tanya durante uma das muitas noites em que eu passei
na casa dos Cullen, aprendendo tanto quanto eu podia, me preparando o máximo possível para o
futuro que eu havia escolhido. A história da mãe de Tanya foi um dentre tantos, um conto de
aviso ilustrando uma das regras que eu nunca poderia esquecer quando eu adentrasse o mundo
dos imortais. Uma única regra, de fato - uma leia com milhares de facetas: Guarde o segredo.
Guardar o segredo significada muitas coisas - viver imperceptivelmente como os Cullens, se
mudar antes que os humanos desconfiassem de que eles não estavam envelhecendo. Ou
mantendo-se completamente longe de seres humanos - exceto na hora da refeição - como a vida
nômade como James e Victoria tinham vivido; como os amigos de Jasper, Peter e Charlotte,
tinham vivido. Isso significa manter controle de quaisquer novos vampiros que você tenha criado,
como Jasper fez quando viveu com Maria. Como Victoria havia falhado com os recém-nascidos.
Isso significa não criar algumas coisas, acima de tudo, porque algumas criações são
incontroláveis.
- Eu não sei o nome da mãe de Tanya - Carlisle admitiu, seus olhos dourados, quase uma
exata sombra de seu cabelo preso, triste com as lembranças da dor de Tanya. - Eles nunca falam
sobre ela se puderem evitar, nunca pensam nela carinhosamente
- A mulher que criou Tanya, Kate e Irina - que as amou, eu acredito, - viveu muitos anos
antes que eu tivesse nascido, durante uma época de peste em nosso mundo, a peste das crianças
imortais.
- O que eles estavam pensando, os anciões, eu não consigo entender. Eles criaram vampiros
sob humanos que mal eram alguma coisa além de crianças.
Eu tive que engolir o bile que estava em minha garganta quando imaginei o que ele havia
descrevido.
- Eles eram muito lindos - Carlisle explicou rapidamente, vendo minha reação. - Tão
amáveis, tão encantadores, você não consegue imaginar. Mas era preciso estar perto deles para
amá-los; isto era algo automático. Contudo, eles não podiam ser ensinados. Eles foram congelados
em qualquer level do desenvolvimento que eles estavam antes de ser mordidos. Adoráveis
crianças de dois anos de idade com covinhas e ceceios que podiam destuir metade de uma vila
com seu furor. Se eles estavam com fome, eles se alimentavam, e não haviam palavras de aviso
que os parassem. Humanos os viam, histórias começaram a circular, o medo se alastrava como
fogo na palha seca...
- A mãe de Tânia criou uma dessas crianças. E assim como os outros anciões, não consigo
imaginar as suas razões. - Ele deu um profundo suspiro. - Os Volturi se envolveram, é claro.
Eu estremi como sempre com aquele nome, mas é claro, que a legião de vampiros da Itália -
a realeza de sua espécie - era o centro da história. Não podia existir uma lei se não houvesse uma
punição; não podia havia uma punição se não houvesse ninguém para aplicá-la. Os anciões Aro,
Caius e Marcus governavam as forças dos Volturi.
Eu somente os vi uma vez, mas naquele breve encontro, pareceu para mim que Ari, com seu
poderoso poder de ler-mentes - um toque e ele sabia cada pensamento que aquela mente já havia
tido - era o líder verdadeiro.
- Os Volturi estudaram as crianças imortais, em sua casa em Volterra e ao redor do mundo.
Caius decidiu que os jovens eram incapazes de proteger nosso segredo. Então eles deveriam ser
destruídos.
- Eu te disse que eles eram adoráveis. Bem, grupos de bruxas lutaram até o último homem -
que foram completamente dizimados - para protegê-los. A carnificina não foi generalizada em
guerras como a do continente do Sul, mas mais devastador de sua própria maneira. Grupos de
bruxas enraizados, velhas tradições, amigos… Muita perda. No final, a prática foi completamente
eliminada. As crianças imortais se tornaram não mencionáveis, um tabu. Quando eu vivi com os
Volturi, encontrei duas crianças imortais, por isso sabia em primeira mão o recurso que tinha. Aro
estudou os pequeninos por muitos anos após a catástrofe que lhes foi provocadas. Você sabe
curiosamente sua disposição; ele estava esperançoso de que poderia amansá-las. Mas, no fim, a
decisão foi unânime: as crianças imortais não poderiam existir
Todos haviam esquecido a mãe das irmãs Denally quando a história retornou. Não está totalmente
claro o que aconteceu com a mãe de Tanya - Carlisle disse. - Tanya, Kate e Irina foram
inteiramente óbvias até o dia em que os Volturi chegaram, sua mãe e suas criações ilegais (?). Foi
a ignorância que salvou Tanya e suas irmãs. Aro lhes tocou e viu a sua total inocência, para que
não fossem punidas como sua mãe. Nenhum deles tinha visto o garoto antes, ou tinham sonhando
com sua existência, até o dia que eles o viram queimar nos braços de sua mãe. Eu posso apenas
imaginar que sua mãe teve que guardar seu segredo para protege-los desse exato resultado. Mas
em primeiro lugar, por que ela o criou? Quem foi ele, e o que ele pretendia para ela que fez com
que ela atravessasse esse inimaginável limite? Tanya e os outros nunca receberam uma resposta
para nenhuma dessas perguntas. Mas não duvidavam da culpa de sua mãe, e não penso que eles
lhe perdoaram de verdade. Elas foram sortudas que Aro estava se sentindo compassivo aquele
dia. Tanya e suas irmãs foram perdoadas, mas deixaram com os corações feridos e um grande
respeito pela lei...
Eu não sei exatamente em qual momento a memória se transformou em sonho. Um
momento parecia que eu estava ouvindo Carlisle em minha memória, olhando para o seu rosto e
então, no outro momento eu estava olhando para um cinza, árido campo e sentindo o cheiro de
um denso incenso no ar. Eu não estava sozinha ali.
A mistura de figuras no centro do campo, todos cobertos com uma capa escura, devia ter
me aterrorizado - eles só podiam ser os Volturi e eu, ao contrário do decretado em nossa última
reunião, ainda humana. Mas eu sabia, como algumas vezes acontecia nos sonhos, que eu era
invisível para eles.
Espalhado ao meu redor estavam montes de fumaça. Reconheci a doçura no ar e não
examinei o esfumaçado muito profundamente. Não tive nenhum desejo de ver as caras dos
vampiros que eles tinham executado, com um pouco de medo que eu pudesse reconhecer alguém
por dentre as chamas.
Os soldados Volturi pararam em um círculo ao redor de alguma coisa ou alguém e eu pude
ouvir suas vozes em suspiro sobrepondo-se à agitação. Eu me debrucei sobre as capas, levada
pelo sonho para ver que coisas ou pessoas eles estavam examinando com tanta intensidade. Me
arrastando cuidadosamente por entre dois encapuzados altos, eu finalmente vi o objeto do debate,
subindo em um pequeno morro atrás deles.
Ele era bonito, adorável, como Carlisle tinha descrito. O garoto era ainda uma criança, e
talvez tivesse até dois anos de idade. Cabelos cacheados em tom castanho claro, enquadrava sua
face de querubim com bochechas redondas e lábios cheios. E ele estava tremendo, seus olhos
fechados como se ele estivesse receoso para assistir a sua morte se aproximar cada segundo.
Fiquei chocada com essa poderosa necessidade de salvar o adorável, aterrorizados Volturi
que a criança não obstante toda a sua devastadora ameaça a longo importava para mim. Eu
passei entre eles sem me importar se eles notariam. Soltando-me deles completamente, eu corri
em direção ao menino.
Combaleando eu parei e pude ter uma visão clara do morro que ele se sentou. Aquilo não
era terra e rocha, mas a uma pilha de corpos humanos, drenados e inanimados. Muito tarde para
não ver seus rostos. Eu conhecia todos eles Angela---, Ben, Jessica, Mike... E diretamente abaixo
do menino adorável estavam os corpos do meu pai e minha mãe.
A criança abriu os seus olhos brilhantes, de cor de sangue.
3 – O GRANDE DIA
Meus olhos se abriram.
Eu fiquei deitada tremendo e engasgando em minha cama quente por vários minutos,
tentando me livrar do sonho. O céu pra fora de minha janela virou cinza e então um rosa pálido
enquanto eu esperava para meu coração desacelerar.
Quando eu voltei para a realidade do meu quarto bagunçado e familiar, eu me senti um
pouco irritada comigo mesma. Que sonho para se ter na véspera de meu casamento! Isso que eu
ganhei por ficar obcecada com histórias perturbadoras no meio da noite.
Ansiosa para me livrar do pesadelo, eu me vesti e fui para a cozinha muito antes do que o
necessário. Primeiro eu limpei o cômodo pequeno, e quando Charlie levantou, eu preparei
panquecas. Eu estava muito inquieta para ter qualquer interesse em tomar café da manhã – eu
sentei e fiquei remexendo na cadeira enquanto ele comia.
- Você tem que buscar o Sr. Weber às três horas. - eu o lembrei.
- Eu não tenho muita coisa para fazer hoje a não ser trazer o padre, Bells. Não vou esquecer
meu único encargo. - Charlie tinha tirado o dia todo de folga para o casamento, e ele estava
definitivamente.
De vez em quando, seus olhos piscavam furtivamente no armário embaixo da escada, onde
ele guardava sua vara de pesca.
- Esse não é seu único encargo. Você também tem que se vestir e ficar apresentável.
Ele fez uma careta para sua caneca de cereais e murmurou as palavras ‘terno de macaco’
baixinho.
Houve uma batida leve na porta da frente.
- Você pensa que vai ser ruim - eu disse, sorrindo enquanto levantava. - Alice vai estar
trabalhando em mim o dia todo.
Charlie acenou pensativamente, concordando que ele tinha a menor tarefa. Eu me inclinei
para beijar o topo de sua cabeça quando passei – ele corou e pigarreou – e continuou para abrir a
porta para minha melhor amiga e que ia ser em pouco tempo, minha irmã.
O cabelo curto de Alice não estava com suas pontas espetadas – estava caindo em cachos
brilhantes, enquadrando seu rosto pequeno, que estava contrastando com uma expressão
profissional. Ela me arrastou da casa com um mero “Oi, Charlie’’ por cima dos ombros.
Alice me avaliou enquanto eu entrava no Porshe.
- Ah, que inferno! Olhe seus olhos! - ela reclamou com reprovação. - O que você fez? Ficou
acordada a noite toda?
- Quase.
Ela me encarou. - Eu tenho pouco tempo para lhe deixar maravilhosa, Bella – você podia ter
tomado mais cuidado com o meu material.
- Ninguém espera que eu fique maravilhosa. Eu acho que o grande problema é que eu talvez
durma durante a cerimônia e não seja capaz de dizer “aceito’’ na parte certa, e então Edward vai
conseguir fugir.
Ela riu. - Eu vou jogar meu buquê em você quando estiver na hora.
- Obrigada.
- Pelo menos você vai ter bastante tempo para dormir no avião amanhã.
Eu ergui uma sobrancelha. Amanhã, eu pensei. Se nós fomos embora depois da festa, ainda
estaríamos no avião amanhã à noite... bem, não estávamos indo para Boise, Idaho. Edward não
tinha dado nenhuma pista. Eu não estava tão estressada com o mistério, mas era estranho não
saber onde iria dormir na noite seguinte. Ou, esperançosamente, não dormindo...
Alice percebeu que ela tinha me dado uma dica, e franziu a testa.
- Você já está com as malas preparadas e prontas - ela disse para me distrair.
Funcionou. - Alice, eu queria que você me deixasse preparar minhas próprias malas!
- Teria dado muitas pistas.
- E negado a você uma oportunidade de fazer compras.
- Você será minha irmã oficialmente em poucas horas... está na hora de superar essa
aversão a roupas novas.
Eu encarei preocupada pelo pára-brisa ante que estávamos quase na casa.
- Ele já voltou? - eu perguntei.
- Não se preocupe, ele estará de volta antes que a música comece. Mas você não pode vêlo,
não importa quando ele chegue. Vamos fazer isso do jeito tradicional.
Eu bufei. - Tradicional!
- Certo, a parte da noiva e do noivo.
- Você sabe que ele já espiou.
- Ah, não - esse é o porquê de só eu ter visto você no vestido de noiva. Tenho sido bem
cuidadosa para não pensar nisso quando ele está por perto.
- Bem - eu disse quando nós fizemos a curva – estou vendo que você re-aproveitou a
decoração da formatura. - Os seis quilômetros da estrada estavam novamente envoltos em
milhares de luzinhas. Dessa vez, ela adicionou arcos de cetim branco.
- Não quero desperdiçar. Aproveite, porque você não verá a decoração de dentro até que
esteja na hora. - Ela estacionou na garagem gigante a norte da casa. O jipe enorme de Emmett
ainda não tinha voltado.
- Desde quando a noiva não pode ver a decoração? - eu protestei.
- Desde que ela me colocou no comando. Quero que você tenha o impacto completo quando
descer as escadas.
Ela colocou a mão sobre meus olhos antes me deixar entrar pela cozinha. Eu fui
imediatamente assaltada pelo cheiro.
- O que é isso? - eu perguntei enquanto ela me guiava pela casa.
- É muito? - A voz de Alice estava abruptamente preocupada. - Você é a primeira humana
aqui. Espero que eu tenha acertado.
- O cheiro é delicioso! - eu a assegurei – era quase intoxicante, mas não surpreendente, o
balanço das fragrâncias diferentes era sutil e completo. - Cascas de laranja... lilás... e alguma coisa
a mais – estou certa?
- Muito bom, Bella. Só esqueceu da freesia e das rosas.
Ela não descobriu meus olhos até que estivéssemos em seu grande banheiro. Eu olhei para a
grande pia, coberta com toda a parafernália de um salão de beleza, e comecei a sentir os efeitos
da noite mal dormida.
- Isso é realmente necessário? Eu vou parecer comum perto dele de qualquer jeito.
Ela me sentou em uma cadeira pequena e cor-de-rosa. - Ninguém vai ousar chamar você de
comum quando eu terminar.
- Só porque eles estão com medo de que você sugue o sangue deles - eu murmurei. Eu
apoiei nas costas da cadeira e fechei meus olhos, esperando ser capaz de cochilar enquanto aquilo
durasse. Eu apaguei de vez em quando enquanto ela me maquiava, passava blush e polia cada
espaço do meu corpo.
Era depois do almoço quando Rosalie escorregou pela porta do banheiro com um vestido
prata brilhante com seu cabelo dourado preso em uma pequena coroa no topo de sua cabeça. Ela
era tão linda que me deu vontade de chorar. Qual era o sentido em me vestir com Rosalie por
perto?
- Eles voltaram - Rosalie disse, e imediatamente meu ataque de pânico infantil desapareceu.
Edward estava em casa.
- Deixe-o longe daqui!
- Ele não vai encontrar com você hoje - Rosalie a assegurou. - Ele dá valor demais à vida.
Esme os mandou cuidar de umas coisas. Você quer alguma ajuda? EU posso fazer o cabelo dela.
Meu queixo caiu. Eu fiz uma batalha em minha cabeça, tentando me lembrar de como fechar
minha boca.
Eu nunca fui a pessoa preferida de Rosalie. Então, deixando as coisas ainda mais tensas
entre nós, ela estava pessoalmente ofendida pela escolha que eu estava fazendo agora. Embora
ela tivesse aquela beleza impossível, uma família que amava, e sua alma gêmea em Emmett, ela
teria trocado tudo para ser humana. E aqui estava eu, insensivelmente jogando tudo fora, tudo o
que ela queria na vida, como se fosse lixo. Eu não a fiz gostar mais de mim.
- Claro - Alice disse. - Você pode começar trançando. Eu quero que fiquei um pouco
embaraçado. O véu vai aqui, embaixo. - As mãos dela começaram a passar pelo meu cabelo,
levantando e virando-o, ilustrando em detalhes como ela queria. Quando ela terminou, as mãos de
Rosalie substituíram as dela, amaciando meu cabeço com um toque mais leve do que pena. Alice
voltou para seu rosto.
Uma vez que Rosalie recebeu as recomendações de Alice sobre meu cabelo, ela saiu para
pegar meu vestido e localizar Jasper, que tinha sido designado para pegar minha mãe e seu
marido, Phil, do hotel. Lá embaixo, eu podia ouvir a porta se abrindo e se fechando várias vezes.
Vozes começaram a se aproximar.
Alice me fez levantar para que ela pudesse colocar o vestido por cima de meu cabelo e
maquiagem. Meus joelhos tremeram tão forte quando ela fechou os botões de pérola nas minhas
costas que o cetim caiu em pequenas ondas pelo chão.
- Respire fundo, Bella. - Alice disse. - E tente diminuir as batidas de seu coração. Você vai
suar e borrar a maquiagem.
Joguei a ela a melhor expressão sarcástica que pude fazer. - Vou tentar fazer isso.
- Eu tenho que ir me vestir agora. Consegue se segurar por dois minutos?
- Ah... talvez?
Ela revirou os olhos e saiu pela porta.
Eu me concentrei em minha respiração, contando cada movimento de meus pulmões, e
encarei o padrão que a luz do banheiro fazia brilhar pelo tecido de minha saia. Eu estava com
medo de olhar no espelho – medo de que a imagem de mim mesmo em um vestido de noiva iria
me fazer ter um novo ataque te pânico.
Alice voltou antes que eu respirasse duzentas vezes, num vestido que caia pelo seu corpo
magro como uma cachoeira prateada.
- Alice, uau.
- Não é nada. Ninguém vai olhar para mim hoje. Não enquanto você estiver no salão.
- Há há.
- Agora, você está sob controle ou eu preciso trazer Jasper aqui?
- Eles voltaram? Minha mãe está aqui?
- Ela acabou de entrar. Está subindo.
Renée tinha chegado há dois dias, e eu tinha passado cada minuto que podia com ela – cada
minuto que eu podia afasta-la de Esme e da decoração, nas palavras dela. Até onde eu podia
dizer, ela estava se divertindo mais que eu criança presa à noite da Disney. De um jeito, eu me
senti traída do mesmo jeito que Charlie. Todos aquele terror desperdiçado com a reação dela...
- Ah, Bella! - ela gritou agora, emocionada, antes que ela tivesse passado pela porta. - Ah,
querida, você está maravilhosa! Ah, eu vou chorar! Alice, você é fantástica! Você e Esme deviam
entrar no mercado como planejadoras de casamentos. Onde você achou esse vestido? É lindo! Tão
gracioso, tão elegante. Bella, parece que você acabou de sair de um filme Austin. - A voz de minha
mãe pareceu um pouco distante, e tudo no quarto era um fraco borrão. - Uma idéia tão criativa,
fazendo o tema do vestido baseado no anel de Bella. Tão romântico! E pensar que está na família
de Edward desde os anos 1800!
Alice e eu trocamos um olhar breve e conspiratório. Minha mãe estava sem noção do estilo
do vestido por mais de cem anos. O casamento estava na verdade, centrado não no anel, mas no
próprio Edward.
Houve um pigarro na porta.
- Renée, Esme disse que é hora de você descer. - Charlie disse.
- Bom, Charlie, como você está arrojado! - Renée disse em um tom que era quase choque.
Talvez isso tenha explicado a rigidez na resposta de Charlie.
- Alice me pegou.
- Já está na hora mesmo? - Renée disse para si mesma, parece quase tão nervosa quanto eu
me sentia. - Isso tudo foi tão rápido. Sinto-me tonta.
Isso fazia duas de nós.
- Me dê um abraço antes que eu desça. - Renée insistiu. - Cuidado agora, não quero rasgar
nada.
Minha mãe me apertou gentilmente em sua cintura, então se virou para a porta, só para
terminar a volta e me olhar de novo.
- Ah, meu Deus, quase esqueci! Charlie, onde está a caixa?
Meu pai procurou em seu bolso por um minuto e então tirou uma pequena caixa branca e a
entregou a Renée. Renée levantou a tampa e entregou para mim.
- Alguma coisa azul. - ela disse.
- E alguma coisa velha também. Eles eram da vovó Swan - Charlie adicionou. - Nós pedimos
para um joalheiro substituir as jóias antigas por safiras.
Dentro da caixa haviam duas presilhas de cabelo. Safiras azul escuras estavam incrustadas
em complicados desenhos florais em cima dos prendedores.
Minha garganta ficou apertada. - Mãe, pai... vocês não precisavam.
- Alice não nos deixou fazer mais nada - Renée disse. - Toda vez que a gente tentava, ela
praticamente arrancava as nossas gargantas.
Uma gargalhada histérica saiu pelos meus lábios.
Alice veio para a frente e rapidamente deslizou as presilhas em meus cabelos, logo abaixo
das tranças grossas. - Isso é uma coisa velha e azul - Alice pensou, dando uns passos pra trás
para me admirar. - E o seu vestido é novo... então, aqui –
Ela jogou alguma coisa para mim. Eu levantei minhas mãos automaticamente e a liga branca
translúcida caiu na minha mão.
- Isso é meu e eu quero de volta - Alice me disse.
Eu fiquei vermelha.
- Pronto - Alice disse com satisfação. - Um pouco de cor - é tudo o que você precisa. Você
está oficialmente perfeita - Com um sorriso que parabenizava ela mesma, ela se virou para os
meus pais. - Renée, você precisa ir lá pra baixo.
- Sim, madame - Renée me soprou um beijo e saiu apressada pela porta. - Charlie, você
pode pegar as flores, por favor?
Enquanto Charlie estava fora do quarto, Alice arrancou a liga das minhas mãos e se enfiou
embaixo da minha saia. Eu resfoleguei e cambaleei enquanto as mãos frias dela segurava o meu
calcanhar; ela enfiou a liga no lugar.
Ela já estava de pé novamente antes que Charlie retornasse com dois buquês cheios de
flores brancas. O cheiro de rosas e flores de laranjeira e freesia me cercou numa suave mistura.
Rosalie – a melhor música da família depois de Edward – começou a tocar piano no andar de
baixo. Pachelbel’s Cânon. Eu comecei a hiperventilar.
- Calma, Bells - Charlie disse. Ele se virou nervosamente pra Alice. - Ela parece um pouco
enjoada. Você acha que ela vai conseguir?
A voz dele soou longe. Eu não conseguia sentir minhas pernas.
- É melhor que consiga.
Alice ficou bem na minha frente, na ponta dos pés pra me olhar nos olhos mais facilmente, e
agarrou meus pulsos em suas mãos duras.
- Concentre-se, Bella. Edward está te esperando lá embaixo.
Eu respirei profundamente, tentando me recompor.
A música mudou lentamente para outra música. Charlie me cutucou. - Bells, é a nossa vez.
- Bella? - Alice perguntou, ainda me olhando nos olhos.
- Sim - eu guinchei. - Edward. Tudo bem. - Eu deixei que ela me tirasse do quarto, com
Charlie agarrado em meu cotovelo.
A música estava mais alta no corredor. Eu flutuei nas escadas junto com as fragrâncias dos
milhões de flores. Eu me concentrei da idéia de Edward me esperando lá embaixo pra fazer os
meus pés se moverem.
A música era familiar, uma marcha tradicional de Wagner cercada por um monte de
embelezamentos.
- É a minha vez - Alice chiou. - Conte até cinco e me siga. Ela começou a descer as escadas
lenta e graciosamente. Eu devia ter me dado conta que ter Alice como minha única dama de honra
era um erro. Eu ia parecer muito mais descoordenada andando atrás dela.
Um súbito ruído de juntou à música. Eu reconheci a minha deixa.
- Não me deixe cair, pai - eu sussurrei. Charlie pôs a minha mão em seu braço e a apertou
com força.
Um passo de cada vez, eu disse a mim mesma enquanto começava a descer ao lento som da
marcha. Eu não ergui meus olhos até que os meus pés estavam seguros no chão, apesar de
conseguir ouvir os murmúrios e ruídos da platéia enquanto eu aparecia. O sangue subiu pro meu
rosto por causa do som; é claro que já se esperava que eu fosse uma noiva corada.
Assim que os meus pés tinham vencido as escadas traiçoeiras, eu estava procurando por ele.
Por um breve segundo, eu fiquei distraída com a profusão de botões de flores brancas que
pendiam de guirlandas em qualquer parte da sala que não estivesse viva, caindo em longas filas
de leves laços brancos. Mas eu separei meus olhos dos arcos das portas e procurei pelas fileiras de
cadeiras cobertas de cetim – ficando ainda mais vermelha quando vi a multidão de rostos olhando
pra mim – até que eu finalmente o encontrei, de pé perto de um vaso com mais flores ainda, e
mais laços.
Eu mal tinha consciência de Carlisle de pé ao lado dele, e do pai de Angela atrás deles dois.
Eu não vi minha mãe de onde ela devia estar sentada na primeira fileira, nem a minha família
nova, ou nenhum dos meus convidados – eles teriam que esperar até mais tarde.
Tudo o que eu realmente via era o rosto de Edward; ele encheu minha visão e dominou
minha mente. Os olhos dele estavam claros, ouro em chamas; seu rosto perfeito estava quase
parecendo severo com a profundidade de suas emoções. E aí, quando ele encontrou meu olhar
abismado, ele se quebrou em um sorriso feliz de tirar o fôlego.
De repente, a única coisa me impedindo de correr pelo corredor era a mão de Charlie
apertando a minha.
A marcha era lenta demais enquanto eu tentava fazer meus pés acompanharem o ritmo. Por
sorte, o corredor era bem curto. E finalmente, finalmente, eu estava lá. Edward estendeu sua
mão. Charlie pegou minha mão e, num símbolo tão velho quanto o mundo, colocou-a sobre a mão
de Edward. Eu toquei o frio milagre de sua pele, e eu estava em casa.
Nossos votos foram simples, palavras tradicionais que já foram ditas milhões de vezes,
apesar de nunca por um casal como nós. Nós só pedimos ao Sr. Weber pra fazer uma pequena
mudança. Ele concordou em trocar a frase “até que a morte nos separe” por uma mais apropriada
“enquanto nós dois vivermos”.
Naquele momento, enquanto o juiz de paz dizia sua parte, meu mundo, que tinha estado de
cabeça pra baixo por tanto tempo, agora parecia ficar na posição correta. Eu me dei conta do
quanto eu estava sendo ao sentir medo disso – como se isso fosse um presente de aniversário que
eu não queria ou uma exibição vergonhosa, como um baile. Eu olhei para os olhos brilhantes,
triunfantes de Edward, e eu soube que eu também estava vencendo. Porque nada mais importava
além do fato de que eu poderia ficar com ele.
Eu não me dei conta de que estava chorando até a hora de dizer as palavras tão esperadas.
- Eu aceito - eu consegui botar pra fora num sussurro quase inaudível, piscando pra
conseguir ver o rosto dele.
Quando foi a vez dele de falar, as palavras soaram claras e vitoriosas.
- Eu aceito - ele jurou.
O Sr. Weber nos declarou marido e mulher, e aí as mãos de Edward de ergueram pra
segurar o meu rosto, cuidadosamente, como se ele fosse delicado como as pétalas brancas
balançando sobre nossas cabeças. Eu tentei compreender, apesar da quantidade de lágrimas me
cegando, o fato surreal de que essa pessoa incrível era minha. Seus olhos dourados estavam como
se pudessem estar cheios de lágrimas também, se isso não fosse uma coisa tão impossível. Ele
abaixou sua cabeça em direção à minha, e eu fiquei na ponta dos pés, jogando meus braços –
com buquê e tudo – ao redor do pescoço dele.
Ele me beijou ternamente, me adorando; eu esqueci a multidão, o lugar, o tempo, a razão...
lembrando apenas que ele me amava, que ele me queria, que eu era dele.
Ele começou o beijo e eu tive que termina-lo; eu me agarrei a ele, ignorando as risadinhas e
os convidados limpando as gargantas. Finalmente, as mãos dele detiveram meu rosto e ele se
afastou – cedo demais – pra me olhar. Na superfície seu sorriso repentino estava divertido, era
quase um sorriso pretensioso. Mas por baixo desse espetáculo momentâneo da minha exibição
pública estava uma profunda alegria que ecoava a minha própria.
A multidão aplaudiu, e ele virou os nossos corpos para ficar de frente para as nossas famílias
e amigos.
Os braços da minha mãe foram os primeiros a me encontrar, seu rosto coberto de lágrimas
foi a primeira coisa que eu encontrei quando eu desviei meus olhos de Edward sem querer. E aí eu
fui passada para a multidão, passada de abraço para abraço, apenas meio consciente de quem me
abraçava, minha atenção concentrada na mão de Edward que segurava a minha própria mão com
força. Eu reconheci a diferença entre os abraços suaves e quentes dos meus amigos humanos, e
os abraços gentis e frios da minha nova família.
Um abraço severo se destacou entre os outros – Seth Clearwater teve a coragem de ficar em
meio a todos os vampiros para representar meu amigo lobisomem perdido.
4 – GESTO
O casamento foi seguido sutilmente pela festa de recepção – prova do planejamento perfeito
de Alice. O crepúsculo chegava acima do rio; a cerimônia tinha durado o tempo exato, permitindo
que o sol se pusesse atrás das árvores. As luzes nas árvores brilhavam enquanto Edward me
guiava através das portas de vidro de trás da casa, fazendo as flores brancas brilhar. Haviam mais
dez mil flores ali, servindo como uma tenda perfumada e flutuante sobre a pista de dança que foi
arrumada na grama sob duas cidreiras antigas.
As coisas desaceleraram, relaxando enquanto a leve noite de Agosto nos cercava. A pequena
multidão se espalhou sob o leve brilho das luzes cintilantes, e nós fomos cumprimentados
novamente pelos amigos que tínhamos acabado de cumprimentar.
Agora havia tempo para conversar, para sorrir.
- Parabéns, pessoal - Seth Clearwater nos disse, abaixando a cabeça por causa de uma
guirlanda de flores. A mãe dele, Sue, estava bem ao seu lado, olhando os convidados com um
estudado interesse. O rosto dela era fino e penetrante, uma expressão que se atenuou pelo seu
corte de cabelo curto, severo; era tão curto quanto o cabelo de sua filha Leah – eu me perguntei
se ela tinha cortado curto desse jeito em sinal de solidariedade. Billy Black, do outro lado de Seth,
não estava tão tenso quanto Sue.
Quando eu olhava para o pai de Jacob, eu sempre sentia que estava vendo duas pessoas e
não uma só. Lá estava um homem velho numa cadeira de rodas com um rosto marcado de rugas
e um sorriso branco que todo mundo via. E depois havia o descendente direto de uma longa
linhagem de chefes índios poderosos, vestido com aquela autoridade com a qual ele tinha nascido.
Apesar da mágica ter – pela ausência de problemas – pulado a sua geração, Billy ainda era uma
parte do poder e da lenda. Eles o cercavam. Ela cercava o seu filho, o herdeiro da magia, que deu
as costas a isso tudo. Isso agora deixava Sam Uley que agisse como chefe das lendas e magia...
Billy parecia estranhamente tranqüilo considerando que a companhia e o evento – seus olhos
brilhavam como se ele tivesse acabado de receber uma boa notícia. Eu estava impressionada com
o comportamento dele. Esse casamento devia parecer uma coisa ruim, a pior coisa que podia ter
acontecido à filha do melhor amigo dele, nos olhos de Billy.
Eu sabia que não era fácil pra ele esconder seus sentimentos, considerando o desafio que
esse evento marcava para a antiga trégua feita entre os Cullen e os Quileute – o acordo havia
proibido que os Cullen viessem a criar outro vampiro. Os lobisomens sabiam que uma quebra
estava acontecendo, mas os Cullen não faziam idéia de como eles reagiriam. Antes da aliança, isso
teria significado ataque imediato. Uma guerra. Mas agora que eles se conheciam melhor, será que
ao invés disso haveria perdão?
Como que em resposta a esse pensamento, Seth se inclinou na direção de Edward, com os
braços estendidos. Edward retornou o abraço com seu braço livre.
Eu vi Sue estremecer delicadamente.
- É bom ver as coisas dando certo pra você, cara - Seth disse. - Eu estou feliz por você.
- Obrigado, Seth. Isso significa muito pra mim. - Edward se afastou de Seth e olhou para
Sue e Billy. - Obrigado a vocês também. Por ter deixado o Seth vir. Por dar apoio a Bella hoje.
- De nada - Billy disse com sua voz profunda, gutural, e eu me surpreendi com o otimismo
na voz dele. Talvez uma trégua mais forte estivesse no horizonte.
Uma pequena fila estava se formando, então Seth acenou dando adeus e Billy empurrou sua
cadeira em direção à comida. Sue manteve uma mão em cada um deles.
Angela e Ben eram os próximos querendo nossa atenção, seguidos pelos pais de Angela e então
Mike e Jéssica, que estavam – para minha surpresa – de mãos dadas. Eu não sabia que eles
estavam juntos de novo. Isso era bom.
Atrás dos meus amigos humanos estavam os meus novos primos, os vampiros do clã Denali.
Eu me dei conta de que estava prendendo a respiração enquanto a vampira da frente – Tanya, eu
presumi pelo tom dos seus cabelos loiros – se aproximava para abraçar Edward. Perto dela, os
outros três vampiros de olhos dourados me olharam com franca curiosidade.
Uma das mulheres tinha um cabelo longo, loiro pálido, liso como seda. A outra mulher e o
homem ao seu lado tinham cabelos escuros, com a pele meio escurecida sobre sua compleição
pálida.
Eles eram todos tão lindos que faziam meu estômago doer.
- Ah, Edward - Tanya disse. - Eu senti sua falta.
Edward gargalhou e inteligentemente conseguiu se livrar do abraço, colocando a mão
levemente sobre o ombro dela e dando um passo pra trás. - Já faz bastante tempo, Tanya. Você
parece bem.
- E você também.
- Deixe-me apresenta-los minha esposa. - Era a primeira vez que Edward dizia essa palavra
desde que isso virou oficialmente verdade; parecia que ele ia explodir de satisfação dizendo isso
agora. Todos os Denali sorriram levemente em resposta. - Tanya, esta é minha Bella.
Tanya era exatamente tão amável quanto nos meus piores pesadelos haviam predito. Ela me
lançou um olhar que era mais especulativo do que resignado, e então pegou minha mão.
- Bem vinda à família, Bella - ela sorriu, um pouco descontente. - Nós nos consideramos uma
extensão da família de Carlisle, e eu lamento por, er, aquele incidente recente quando não nos
comportamos como tal. Nós devíamos ter te conhecido mais cedo. Você pode nos perdoar?
- É claro - eu disse sem fôlego. - É muito bom conhecer vocês.
- Agora todos os Cullen tem um par. Talvez agora seja a nossa vez, hein, Kate?
Ela sorriu para a loira.
- Continue sonhando - Kate disse, rolando seus olhos. Ela tomou minha mão de Tanya e
apertou-a gentilmente. - Bem vinda, Bella.
A mulher de cabelos escuros pôs a mão sobre a de Kate. - Eu sou Carmem, esse é Eleazar.
Estamos muito felizes por finalmente conhecer você.
- E-eu também - eu gaguejei.
Tanya olhou para as pessoas esperando atrás dela – o companheiro de trabalho de Charlie,
Mark, e sua esposa. Seus olhos eram enormes enquanto eles olhavam para os Denali.
- Vamos nos conhecer depois. Nós temos muito tempo para fazer isso! - Tanya riu enquanto
ela e sua família seguiam em frente.
Todos os padrões tradicionais foram mantidos. Eu fiquei cega pelos flashes de luz enquanto
segurávamos a faca sobre o bolo espetacular – grande demais, eu pensei, para o nosso grupo
relativamente íntimo de amigos e familiares. Nós começamos enfiar bolo nos rostos um do outro;
Edward engoliu corajosamente e parte que cabia a ele enquanto eu olhava sem acreditar. Eu
joguei meu buquê com estranha destreza, diretamente nas mãos da surpresa Angela.
Emmett e Jasper rugiram de tanto rir quanto Edward arrancou a minha liga emprestada –
que eu havia feito deslizar quase até o meu calcanhar – muito cuidadosamente com os dentes.
Com uma piscadela pra mim, ele atirou-a bem na cara de Mike Newton.
E quando a música começou, Edward me puxou pros seus braços para a costumeira primeira
dança; eu fui por vontade própria, apesar do meu medo de dançar – especialmente dançar na
frente de uma platéia – feliz por ele simplesmente me abraçar. Ele fez todo o trabalho, e eu girei
sem esforço algum sob as luzes e flashes brilhantes das câmeras.
- Aproveitando a festa, Sra. Cullen? - Ele sussurrou no meu ouvido.
Eu ri. - Eu vou levar um tempo pra me acostumar com isso.
- Nós temos um tempo - ele me lembrou, sua voz exultante, e se inclinou pra me beijar
enquanto a gente dançava. Câmeras disparavam sem parar.
A música trocou, e Charlie cutucou o ombro de Edward.
Dançar com Charlie nem de perto foi tão fácil. Ele não era melhor do que eu, então nós nos
mexíamos cuidadosamente de um lado pro outro no pequeno formato de um quadrado. Edward e
Esme giravam ao nosso redor como Fred Astaire e Ginger Rogers.
- Eu vou sentir sua falta lá em casa, Bella. Eu já me sinto sozinho.
Eu falei através da minha garganta apertada, tentando fazer piada sobre isso.
- Eu me sinto simplesmente horrível, tendo que fazer você cozinhar pra si mesmo – é
praticamente um crime de negligência. Você podia me prender.
Ele deu um sorriso. - Eu acho que vou sobreviver à comida. Só me ligue quando puder.
- Eu prometo.
Parecia que eu tinha dançado com todo mundo. Era bom ver todos os meus amigos, mas eu
queria mesmo era estar com Edward acima de qualquer coisa. Eu fiquei feliz quando ele
finalmente interrompeu, meio minuto depois que uma nova dança começou.
- Ainda não gosta muito de Mike, hein? - Eu comentei enquanto Edward me puxava pra
longe dele.
- Não quando eu preciso ouvir os pensamentos dele. Ele tem sorte que eu não o botei pra
fora. Ou pior.
- Tá, certo.
- Você teve uma chance de olhar para si mesma?
- Um, não, eu acho que não. Por quê?
- Então eu acho que você não se dá conta que está absolutamente linda e de tirar o fôlego
esta noite. Não me surpreende que Mike tenha dificuldade com seus pensamentos impróprios com
uma mulher casada. Eu estou desapontado por Alice não ter te forçado a se olhar no espelho.
- Você é louco, sabia?
Ele suspirou e então parou e me virou em direção à casa. A parede de vidro refletia a festa
lá atrás como um longo espelho. Edward apontou para o casal no espelho diretamente à nossa
frente.
- Sou louco, não é?
Eu vi apenas um pouco do reflexo de Edward – uma duplicata perfeita de seu rosto perfeito
– com uma bonitona de cabelos escuros ao seu lado. A pele dela era como rosas e creme, seus
olhos estavam enormes e excitados e margeados por enormes cílios grossos. A estrutura estreita
do vestido branco cintilante ficava subitamente cheio na cauda quase como um lírio invertido,
cortado com tanta destreza que seu corpo parecia elegante e gracioso – quando estava parada,
pelo menos.
Antes de conseguir piscar e fazer a beleza se voltar para mim, Edward enrijeceu
repentinamente e se virou automaticamente na outra direção, como se alguém tivesse chamado
seu nome.
- Oh - ele disse. A testa dele enrugou por um instante e depois ficou suave de novo
rapidamente.
De repente, ele estava sorrindo brilhantemente.
- O que é? - Eu perguntei.
- Um presente de casamento surpresa.
- Huh?
Ele não respondeu; ele simplesmente começou a dançar de novo, girando comigo para o
lado oposto ao que estávamos indo antes, nos distanciando das luzes e entrando nas profundezas
da noite que cercava a luminosa pista de dança.
Ele não parou até que alcançamos o lado escuro de uma das enormes cidreiras. Então
Edward seguiu diretamente para a sombra mais escura.
- Obrigado - Edward disse para a escuridão. - Isso é muito... gentil da sua parte.
- Gentil é o meu nome do meio - uma voz rouca familiar se ergueu da noite escura. - Posso
invadir?
Minha mão voou para a minha garganta, e se Edward não estivesse me segurando eu ia
sofrer um colapso.
- Jacob! - Eu botei pra fora assim que consegui respirar. - Jacob!
- E aí, Bells.
Eu cambaleei na direção da voz dele. Edward continuou segurando meu cotovelo até que
outro forte par de mãos me pegou na escuridão. O calor da pele de Jacob queimou o cetim do
vestido enquanto ele me puxou pra perto. Ele não se esforçou pra dançar; ele apenas me abraçou
enquanto eu enterrava meu rosto em seu peito.
- Rosalie não vai me perdoar se ela não tiver sua valsa oficial na pista de dança - Edward
murmurou, e eu sabia que ele estava nos deixando, me dando um presente – esse momento com
Jacob.
- Oh, Jacob - eu estava chorando agora. Eu não conseguia botar as palavras pra fora com
clareza. - Obrigada.
- Para de se derreter, Bella. Você vai estragar seu vestido. Sou só eu.
- Só? Oh, Jake! Tudo está perfeito agora.
Ele rosnou. - É – a festa já pode começar o padrinho finalmente chegou.
- Agora todos que eu amo estão aqui.
Eu senti os lábios dele passando pelos meus cabelos. - Eu lamento ter me atrasado, querida.
- Eu estou tão feliz por você ter vindo!
- Essa era a idéia.
Eu olhei na direção dos convidados, mas não consegui ver através dos dançarinos o lugar
onde eu tinha visto o pai de Jacob pela última vez. Eu não sabia se ele tinha ficado. - Billy sabe
que você está aqui?
Assim que eu perguntei, eu soube que ele devia saber – era a única maneira de explicar a
sua expressão feliz de antes.
- Eu tenho certeza que Sam contou a ele. Eu vou vê-lo quando... quando a festa acabar.
- Ele vai ficar tão feliz por você estar em casa.
Jacob se afastou um pouco e se ergueu de novo. Ele deixou uma mão na parte de baixo das
minhas costas e segurou minha mão direita com a outra. Ele segurou nossas mãos no peito dele;
eu podia sentir o coração dele batendo sob minha palma, e eu supus que ele não havia colocado a
minha mão lá por acidente.
- Eu não sei se vou ganhar mais do que essa dança - ele disse, e começou a me puxar em
círculos que não combinavam com o ritmo da música vindo de trás de nós. - É melhor que eu tire
o melhor que puder disso.
Nós nos movíamos seguindo o ritmo do coração dele embaixo da minha mão.
- Eu estou feliz por ter vindo - ele disse baixinho depois de um momento. - Eu não achei que
ficaria feliz. Mas é bom ver você... uma vez mais. Não é tão triste quanto eu imaginei que seria.
- Eu não quero que você se sinta triste.
- Eu sei disso. E eu não vim essa noite pra te fazer sentir culpada.
- Não – eu fico muito feliz por você ter vindo. É o melhor presente que você podia ter me
dado.
Meus olhos estavam se ajustando, e agora eu conseguia ver o rosto dele, mais alto do que
eu esperava. Será que era possível que ele ainda estivesse crescendo? Ele devia estar se
aproximando de dois metros e meio de altura. Era um alívio ver o rosto familiar novamente depois
de todo esse tempo – seus olhos escuros embaixo das sobrancelhas pretas bagunçadas, as maçãs
altas de seu rosto, seus lábios cheios esticados sobre os dentes brilhantes num sorriso sarcástico
que combinava com a voz dele. Seus olhos estavam apertados nos cantos – cuidadoso; eu podia
ver que ele estava sendo muito cuidadoso essa noite. Ele estava fazendo todo o possível pra me
deixar feliz, pra não dar uma escapulida e deixar claro o quanto isso era difícil pra ele. Eu nunca fiz
nada bom o suficiente pra merecer um amigo como Jacob.
- Quando você decidiu voltar?
- Conscientemente ou inconscientemente? - Ele respirou profundamente antes de responder
sua própria pergunta. - Eu realmente não sei. Eu acho que já faz algum tempo que eu estou
rodando essa área, e talvez isso seja porque eu vinha para cá. Mas não foi até essa manhã que eu
comecei a correr. Eu não sabia se ia conseguir chegar a tempo. - Ele riu. - Você não acreditaria no
quanto isso parece estranho – caminhar sobre duas pernas de novo. E roupas! E é mais bizarro
ainda porque isso parece estranho. Eu não esperava isso. Eu estou sem prática nessa coisa toda
de humano. - Ele girou firmemente sem sair do lugar. - Seria uma pena perder de vê-la assim, no
entanto. Isso já valeu a viagem até aqui. Você está inacreditável, Bella. Tão linda.
- Alice investiu muito tempo em mim hoje. O escuro também está ajudando.
- Não está tão escuro pra mim, sabe.
- Certo. - Sentidos de lobisomem. Era fácil esquecer de todas as coisas que ele podia fazer,
ele parecia tão humano. Especialmente agora.
- Você cortou seu cabelo - eu notei.
- É. É mais fácil, sabe. Eu achei melhor usar bem as minhas mãos.
- Está bonito - eu menti.
Ele rosnou. - Certo. Eu mesmo cortei, com facas de cozinha enferrujadas. - Ele deu um
sorriso largo por um momento, e aí seu sorriso sumiu. A expressão dele ficou séria. - Você está
feliz, Bella?
- Sim.
- Okay. - Eu senti ele erguer os ombros. - Isso é o mais importante, eu acho.
- Como você está Jacob? Sério?
- Eu estou bem, Bella, de verdade. Você não precisa mais se preocupar comigo. Pode parar
de encher o saco do Seth.
- Eu não estou enchendo o saco dele só por sua causa. Eu gosto do Seth.
- Ele é um bom garoto. Melhor companhia do que alguns. Eu te digo, se eu pudesse me ver
livre das vozes na minha cabeça, ser um lobisomem seria perfeito.
Eu sorri pela forma que isso soou. - É. Eu também não consigo fazer as minhas vozes
pararem.
- No seu caso isso ia significar que você está louca. É claro, eu já sabia que você é louca -
ele zombou.
- Obrigada.
- Insanidade provavelmente é mais fácil do que dividir os pensamentos com um bando. As
vozes das pessoas loucas não manda babás atrás deles.
- Huh?
- Sam está por aí. E alguns dos outros. Só por via das dúvidas, sabe.
- Que dúvidas?
- No caso de eu não conseguir me controlar, alguma coisa assim. No caso de eu tentar
destruir a festa. - Ele abriu um sorriso rápido pelo que pareceu ser uma boa idéia para ele. - Mas
eu não estou aqui para estragar seu casamento, Bella. Eu estou aqui para... - Ele parou.
- Pra deixar tudo perfeito.
- Isso é um pouco grandioso demais.
- Que bom que você é tão alto.
Ele rosnou com a minha piada ruim e então suspirou. - Eu estou aqui só pra ser seu amigo.
Seu melhor amigo, uma última vez.
- Sam devia te dar mais crédito.
- Bem, talvez eu esteja sendo sensível demais. Talvez eles já devessem estar aqui de
qualquer jeito, pra ficar de olho no Seth. Tem um monte de vampiros por aqui. Seth não leva isso
tão a sério quanto devia.
- Seth sabe que não está em perigo. Ele compreende os Cullen melhor que Sam.
- Claro, claro - Jacob disse, fazendo paz antes que isso se transformasse numa briga.
Era estranho vê-lo sendo tão diplomata.
- Eu lamento por essas vozes - eu disse. - Eu queria poder melhorar as coisas. - De várias
maneiras.
- Não é tão ruim. Eu só to choramingando um pouco.
- Você está... feliz?
- Estou bem perto. Mas já chega de falar de mim. Você é a estrela hoje. - Ele gargalhou. -
Eu aposto que você está adorando isso. Ser o centro das atenções.
- É. Eu nunca me canso da atenção.
Ele riu e olhou para a minha mão. Com os lábios torcidos, ele estudou o brilho cintilante da
festa de recepção, os graciosos giros dos dançarinos, as pétalas flutuantes caindo das guirlandas;
eu olhei junto com ele. Tudo parecia muito distante desse espaço escuro, silencioso. Era quase
como observar os pequenos pedacinhos brancos caindo em círculos num globo de neve.
- Eu admito isso pra eles - ele disse. - Eles sabem como dar uma festa.
- Alice é uma força da natureza impossível de ser detida.
Ele suspirou. - A música acabou. Você acha que eu posso dançar outra? Ou isso é pedir
demais de você?
Eu apertei a mão dele com a minha. - Você pode ter quantas danças quiser.
Ele riu. - Isso seria interessante. Mas eu acho que é melhor parar nas duas. Não quero dar
motivo pra fofoca.
Nós viramos em outro círculo.
- É de se imaginar que a essa altura eu já estivesse acostumado a ter dizer adeus - ele
murmurou.
Eu tentei engolir o caroço na minha garganta, mas não consegui forçá-lo a descer.
Jacob olhou pra mim e fez uma careta. Ele passou os dedos na minha bochecha, pegando as
lágrimas que escorriam ali.
- Não é você quem devia estar chorando, Bella.
- Todo mundo chora em casamentos - eu disse com a voz grossa.
- É isso que você quer, não é?
- É.
- Então sorria.
Eu tentei. Ele sorriu com a minha careta.
- Eu vou tentar lembrar de você assim. Fingir que...
- Que o quê? Que eu morri?
Ele apertou os dentes. Ele estava lutando consigo mesmo – com a sua decisão de fazer de
sua presença aqui um presente e não um julgamento. Eu podia adivinhar o que ele queria dizer.
- Não - ele respondeu finalmente. - Mas eu vou te ver desse jeito em minha cabeça.
Bochechas rosadas. Coração batendo. Dois pés esquerdos. Tudo isso.
Eu deliberadamente pisei no pé dele o mais forte que pude.
Ele sorriu. - Essa é a minha garota.
Ele começou a dizer outra coisa mas fechou a boca. Lutando de novo, ele fechou os dentes
sobre as palavras que ele não queria dizer.
Meu relacionamento com Jacob costumava ser tão fácil. Natural como respirar. Mas desde
que Edward voltou para a minha vida, era uma dificuldade constante. Porque – nos olhos de Jacob
– escolhendo Edward, eu estava escolhendo um futuro que era pior que a morte, ou pelo menos
equivalente a isso.
- O que foi, Jake? É só me dizer. Você pode me dizer qualquer coisa.
- Eu – eu... não tenho nada pra te dizer.
- Oh, por favor. Bota logo pra fora.
- É verdade. Não é... é – é uma pergunta. É uma coisa que eu quero que você diga pra mim.
- Pergunte.
Ele resistiu por um minuto e então exalou. - Eu não devia. Não importa. É simplesmente
curiosidade mórbida.
Como eu o conhecia tão bem, eu entendi.
- Não é essa noite, Jacob - eu sussurrei.
Jacob estava ainda mais obcecado com a minha humanidade que Edward. Cada uma das
batidas do meu coração era como um tesouro, já que elas agora estava com os dias contados.
- Quando? - Ele murmurou.
- Eu não tenho certeza. Uma semana ou duas, talvez.
A voz dele mudou, criou um tom defensivo, de zombaria. - O que está te impedindo?
- Eu simplesmente não queria passar a minha lua de mel esperneando de dor.
- Você prefere passa-la como? Jogando cartas? Ha Ha.
- Muito engraçado.
- Brincadeira, Bells. Mas honestamente, eu não vejo qual a necessidade. Você não pode ter
uma lua de mel de verdade com o seu vampiro, então porque atrasar isso? Vamos ser sinceros.
Não é a primeira vez que você adia. Isso, no entanto, é uma coisa boa - ele disse,
repentinamente, mostrando sinceridade. - Não fique com vergonha disso.
- Eu não estou adiando - eu atirei. - E sim eu posso ter uma lua de mel de verdade! Eu
posso fazer o que eu quiser! Se liga!
Ele parou o lento círculo da dança abruptamente. Por um momento, eu me perguntei se ele
finalmente havia reparado que a música tinha mudado, e eu procurei na minha mente alguma
forma de contornar o nosso pequeno desentendimento antes que ele dissesse adeus. Nós não
devíamos nos despedir dessa forma.
E aí os olhos dele ficaram muito arregalados com um tipo estranho de horror confuso.
- O quê? - Ele resfolegou. - O que você disse?
- Sobre o quê... Jake? Qual é o problema?
- O que você quis dizer? Ter uma lua de mel de verdade? Enquanto você ainda é humana?
Você tá brincando? Essa é uma piada doentia, Bella!
Eu o encarei. - Eu disse pra você se tocar, ligar, Jake. Isso simplesmente não é assunto seu.
Eu não devia ter... nós não devíamos estar conversando sobre isso. É particular –
As mãos enormes dele agarraram a parte de cima dos meus braços, se fechando neles, seus
dedos se tocando.
- Ow, Jake! Me solta!
Ele me sacudiu.
- Bella! Você perdeu a cabeça? Você não pode ser tão estúpida assim! Me diga que você está
brincando!
Ele me sacudiu de novo. As mãos dele apertadas como torniquetes, estavam tremendo,
mandando vibrações profundas pelos meus ossos.
- Jake – pare!
De repente a escuridão foi tomada por uma multidão.
- Tire as suas mãos dela! - A voz de Edward era fria como gelo, afiada como navalhas.
Atrás de Jacob, houve um rosnado que saiu da escuridão da noite, e depois outro, mais alto
que o primeiro.
- Jake, mano, se afasta. - Eu ouvi Seth Clearwater pedir. - Você está perdendo o controle.
Jacob pareceu ficar congelado como estava, seus olhos horrorizados estava arregalados e
vidrados.
- Você vai machucá-la - Seth sussurrou. - Solte-a.
- Agora! - Edward rosnou.
As mãos de Jacob caíram dos lados do seu corpo, e o fluxo de sangue que começou a correr
repentinamente em minhas veias era quase doloroso. Antes que eu pudesse me dar conta de mais
coisas além disso, mãos frias tomaram o lugar das mãos quentes, e de repente o ar ao meu redor
começou a correr.
Eu pisquei, e estava de pé a doze metros de distância do lugar onde eu havia estado antes.
Edward estava tenso na minha frente. Haviam dois enormes lobos entre ele Jacob, mas eles não
pareciam agressivos comigo. Era mais como se eles estivessem tentando prevenir a briga.
E Seth – o grande Seth, de apenas quinze anos – passou seus braços longos ao redor do
corpo trêmulo de Jacob, e estava puxando-o para longe. Se Jacob se transformasse com Seth tão
perto dele...
- Anda, Jake. Vamos.
- Eu vou matar você - Jacob disse, a voz dele estava tão esganiçada de raiva que era apenas
um sussurro baixo. Seus olhos, focados em Edward, queimavam de fúria.
- Eu vou matar você com minhas próprias mãos! Eu vou fazer isso agora! - Ele tremeu
convulsivamente.
O maior lobo, o preto, rosnou alto.
- Seth, saia do caminho. - Edward assobiou.
Seth puxou Jacob novamente. Jacob estava tão acometido de raiva que Seth conseguiu
arranca-lo mais uns metros pra longe. - Não faça isso, Jake. Vamos embora. Anda.
Sam - o maior lobo, o preto – se juntou a Seth nessa hora. Ele colocou sua cabeça enorme
contra o peito de Jacob e empurrou.
Eles três – Seth puxando, Jacob tremendo, e Sam empurrando – desapareceram
rapidamente na escuridão.
O outro lobo ficou olhando eles irem. Eu não tinha certeza, na luz fraca, de qual era a cor do
pêlo dele – marrom chocolate, talvez? Era Quil, então?
- Eu lamento - eu sussurrei para o lobo.
- Está tudo bem agora, Bella - Edward murmurou.
O lobo olhou para Edward. O olhar dele não era amigável. Edward deu a ele um frio aceno
de cabeça. O lobo fez um som e então se virou para acompanhar os outros, sumindo assim como
eles.
- Tudo bem - Edward disse pra si mesmo, e então olhou pra mim. - Vamos voltar.
- Mas Jake –
- Ele está nas mãos de Sam. Ele se foi.
- Edward, eu lamento. Eu fui estúpida –
- Você não fez nada errado –
- Eu tenho uma boca tão grande! Por que eu... Eu não devia ter deixado ele me tirar do sério
assim. O que eu estava pensando?
- Não se preocupe. - Ele tocou meu rosto. - Precisamos voltar para a recepção antes que
alguém perceba a nossa ausência.
Eu balancei a cabeça, tentando me reorientar. Antes que alguém percebesse? Será que
alguém não tinha visto isso?
Então, enquanto eu pensava nisso, eu me dei conta de que o confronto que me pareceu tão
catastrófico, na realidade, tinha sido bem silencioso e curto aqui nas sombras.
- Me dê dois segundos - eu implorei.
Eu estava um caos por dentro com pânico e pesar, mas isso não importava – apenas o
exterior importava nesse momento. Fazer uma boa atuação era uma coisa que eu sabia que
precisava dominar.
- Meu vestido?
- Você está bem. Nem um fio de cabelo está fora do lugar.
Eu respirei profundamente duas vezes. - Certo. Vamos lá.
Ele colocou o braço ao meu redor e me guiou de volta para a luz. Quando nós passamos por
baixo das luzes piscando, ele me virou gentilmente até a pista de dança. Nós nos misturamos com
os outros dançarinos como se a nossa dança nunca tivesse sido interrompida.
Eu olhei para os convidados ao redor, mas ninguém parecia chocado ou amedrontado.
Apenas os rostos mais pálidos dali demonstravam algum sinal de estresse, e eles estavam
escondendo bem. Jasper e Emmett estavam na beira da pista de dança, juntos um do outro, e eu
adivinhei que eles tinham estado lá quando o confronto aconteceu.
- Você está –
- Eu estou bem - eu prometi. - Eu não consigo acreditar que fiz aquilo. O que há de errado
comigo?
- Não há nada de errado com você.
Eu tinha estado tão feliz por Jacob estar lá. Eu sabia o sacrifício que ele estava fazendo. E
então eu arruinei tudo, transformei seu presente em um desastre. Eu devia estar isolada do
mundo.
Mas a minha idiotice não ia arruinar nada mais essa noite. Eu ia deixar tudo de lado, trancar
numa gaveta e trancar pra lidar com isso mais tarde. Haveria tempo suficiente pra me autoflagelar
com isso mais tarde, e nada do que eu fizesse nesse momento ajudaria.
- Está acabado - eu disse. - Não vamos pensar nisso de novo essa noite.
Eu esperei que Edward concordasse rapidamente, mas ele ficou em silêncio.
- Edward?
Ele fechou os olhos e pôs a testa sobre a minha. - Jacob está certo - ele sussurrou. - O que
eu estou pensando?
- Ele não está certo. - Eu tentei manter meu rosto tranqüilo por causa da multidão de amigos
observando. - Jacob é preconceituoso demais pra ver alguma coisa claramente.
Ele murmurou alguma coisa que quase soou como: - Devia deixa-lo me matar só por eu ter
pensado...
- Pare com isso - eu disse ferozmente. Eu agarrei o rosto dele com as minhas mãos e esperei
até que ele abrisse os olhos. - Você e eu. Isso é só o que importa. A única coisa na qual você tem
permissão para pensar agora. Você me ouviu?
- Sim - ele suspirou.
- Esqueça que Jacob apareceu. - Eu podia fazer isso. eu ia fazer isso. - Por mim. Prometa
que você vai deixar isso pra lá.
Ele me olhou nos olhos por um momento antes de responder. - Eu prometo.
- Obrigada, Edward. Eu não estou com medo.
- Eu estou - ele sussurrou.
- Não fique. - Eu respirei profundamente e sorri. - Por sinal, eu te amo.
Ele sorriu só um pouco como resposta. - É por isso que estamos aqui.
- Você está monopolizando a noiva - Emmett disse, vindo por trás do ombro de Edward. -
Me deixe dançar com a minha irmãzinha. Ela pode ser a minha última chance de fazê-la corar.
Ele riu alto, tão tranqüilo quanto ele sempre era não importando a atmosfera.
Acabou que haviam muitas pessoas com as quais eu não tinha dançado ainda, e isso me deu uma
chance de realmente me compor e me decidir. Quando Edward me tirou pra dançar de novo, eu
decidi que a gaveta de Jacob estava bem fechada com força. Quando ele colocou os braços ao
meu redor, eu consegui recuperar a minha sensação de alegria de anteriormente, a minha certeza
de que tudo na minha vida estava no lugar certo essa noite. Eu sorri e coloquei minha cabeça no
peito dele. Os braços dele me apertaram mais.
- Eu posso me acostumar a isso - eu disse.
- Não me diga que você superou os seus problemas com dança?
- Dançar não é tão ruim – com você. Mas eu estava pensando mais nisso – e eu me
pressionei a ele ainda mais – em nunca te soltar.
- Nunca - ele prometeu e se inclinou para me beijar. Esse foi um beijo sério – intenso, lento
mais aumentando o ritmo...
Eu quase tinha esquecido de onde eu estava quando ouvi Alice chamar - Bella, está na hora!
Eu senti uma leve pontada de irritação com minha nova irmã pela interrupção.
Edward a ignorou; seus lábios estavam pousados com força nos meus, mais urgentes que antes.
Meu coração começou a correr e minhas palmas estavam escorregadias na nuca dele.
- Vocês querem perder o avião? - Alice quis saber, bem ao meu lado agora. - Eu tenho
certeza que vocês terão uma bela lua de mel acampados no aeroporto esperando pelo próximo
vôo.
Edward virou um pouco o rosto para murmurar - Vai embora, Alice - e então pressionou seu
lábios nos meus de novo.
- Bella, você quer usar esse vestido no avião? - Ela quis saber.
Eu realmente não estava prestando muita atenção. Naquele momento, eu simplesmente não
ligava.
Alice rosnou baixinho. - Eu vou contar onde você está levando ela, Edward. Deus me ajude,
mas eu vou.
Ele congelou. Então ele levantou o rosto do meu e encarou sua irmã favorita.
- Você é terrivelmente pequena pra ser tão enormemente irritante.
- Eu não escolhi o vestido de viagem perfeito pra vê-lo sem uso - ela respondeu, pegando
minha mão. - Venha comigo, Bella.
Eu lutei com a mão dela para ficar na ponta dos pés e dar mais um beijo nele. Ela puxou
meu braço impacientemente, me levando pra longe dele. Houveram algumas gargalhadas dos
convidados que estavam olhando. Ai eu desisti e a deixei me guiar para a casa vazia.
Ela parecia chateada.
- Desculpa, Alice - eu me desculpei.
- Eu não te culpo, Bella. - Ela suspirou. - Você não parece ser capaz de se controlar.
Eu ri da expressão martirizada dela, e ela fez uma careta.
- Obrigada, Alice. É o casamento mais lindo que alguém já teve - eu disse sinceramente a
ela. - Tudo estava exatamente certo. Você é a melhor irmã, mais esperta e talentosa do mundo
inteiro.
Isso ganhou ela; ela deu um sorriso enorme. - Eu estou feliz que você tenha gostado.
Renée e Esme estavam esperando no andar de cima. Elas três me tiraram rapidamente do
meu vestido e me puseram no vestido azul escuro para viagem de Alice. Eu fiquei agradecida por
alguém ter tirado as presilhas do meu cabelo e o deixaram cair pelas minhas costas, ondulado por
causa das minhas tranças, me salvando de uma dor de cabeça por causa delas mais tarde. As
lágrimas de minha mãe rolaram o tempo inteiro sem parar.
- Eu vou ligar pra você quando souber pra onde estou indo - eu prometi enquanto eu dava
um abraço de despedida nela. Eu sabia que o segredo sobre a lua de mel estava provavelmente
deixando-a louca; mães odeiam segredos, a não ser que elas estivessem envolvidas neles.
- Eu vou te contar assim que ela estiver seguramente longe - Alice ganhou de mim, sorrindo
maliciosamente pela minha expressão magoada. Que injusto, eu ser a última a saber.
- Você vai ter que visitar a mim e ao Phil, muito, muito em breve. É a sua vez de ir para o
sul – ver o sol pra variar - Renée disse.
- Hoje não choveu - eu lembrei ela, evitando o seu pedido.
- Um milagre.
- Está tudo pronto - Alice disse. - Suas malas estão no carro – Jasper vai traze-lo. - Ela me
puxou de volta em direção às escadas com Renée seguindo, ainda meio abraçada comigo.
- Eu te amo, mãe - eu sussurrei enquanto descíamos. - Eu estou muito feliz que você tenha
o Phil. Cuidem um do outro.
- Eu te amo também, Bella, querida.
- Adeus, mãe. Eu amo você - eu disse de novo, minha garganta grossa.
Edward estava esperando no fim das escadas. Eu segurei a mão que ele ergueu pra mim
mas me distanciei, procurando por entra a pequena multidão que esperava pra nos ver sair.
- Pai? - Eu perguntei, meus olhos procurando.
- Aqui - Edward murmurou. Ele me puxou entre os convidados; eles abriram caminho pra
nós. Nós encontramos Charlie encostado de forma estranha na parede atrás de todo mundo,
parecendo que ele estava se escondendo. Os anéis vermelhos ao redor dos olhos dele me
explicaram porquê.
- Oh, pai!
Eu o abracei pela cintura, lágrimas surgindo de novo – eu estava chorando demais essa
noite. Ele deu uns tapinhas nas minhas costas.
- Tudo bem. Você não quer perder seu avião.
Era difícil falar de amor com Charlie – nós éramos parecidos demais, sempre revertendo as
coisas triviais para evitar demonstrações embaraçosas de carinho. Mas isso não era hora pra ter
vergonha.
- Eu amo você, pai - eu disse a ele. - Não esqueça isso.
- Você também, Bells. Sempre amei, sempre amarei.
Eu beijei a bochecha dele ao mesmo tempo que ele beijou a minha.
- Me ligue - ele disse.
- Logo - eu prometi, sabendo que isso era tudo o que eu podia prometer. Apenas uma
ligação. Meu pai e minha mãe não poderiam me ver novamente; eu estaria diferente demais, e
muito, muito perigosa.
- Vá lá, então - ele disse com a voz grogue. - Vocês não querem se atrasar.
Os convidados fizeram outro espaço pra nós. Edward me puxou para o seu lado e nós
escapamos.
- Você está pronta? - Ele perguntou.
- Estou - eu disse, e eu sabia que era verdade.
Todo mundo aplaudiu quando Edward me beijou no batente da porta. Então ele correu para
o carro enquanto a chuva de arroz começava. A maioria passou longe, mas alguém,
provavelmente Emmett, jogou com tremenda precisão, e um monte deles ricocheteou nas costas
de Edward.
O carro estava decorado com mais flores que o decoravam por toda parte, e longos laços de
fita que estavam amarrados a uma dúzia de sapatos – sapatos de estilistas famosos que pareciam
novos em folha – presos ao fundo do carro.
Edward me protegeu do arroz enquanto eu entrava, e então ele entrou e começou a acelerar o
carro enquanto eu acenava pela janela e gritava “eu amo vocês” para a varanda, onde minhas
famílias acenavam de volta.
A última imagem que eu registrei foi dos meus pais. Phil tinha os dois braços rodeando
Renée ternamente. Ela tinha um braço agarrado à cintura dele e a mão livre dela alcançou a de
Charlie. Tantos tipos diferentes de amor, em harmonia nesse momento. Me parecia uma imagem
promissora.
Edward apertou minha mão.
- Eu te amo - ele disse.
Eu me inclinei pros braços dele. - É por isso que estamos aqui - eu citei o que ele disse.
Ele beijou meu cabelo.
Enquanto nós entrávamos na estrada escurecida e Edward pisava no acelerador, eu ouvi um
barulho sobre o ronco do motor, vindo da floresta atrás de nós. Se eu podia ouvir, ele certamente
também podia. Mas ele não disse nada enquanto o som desaparecia na distância. Eu também não
disse nada.
O uivo penetrante, de partir o coração, ficou fraco e então desapareceu inteiramente.
5 – ILHA ESME
- Houston - eu perguntei, erguendo minhas sobrancelhas quando nós chegamos ao portão
em Seattle.
- É só uma parada no meio do caminho - Edward me assegurou com um sorriso malicioso.
Eu me senti como se tivesse acabado de ir dormir quando ele me acordou. Eu estava grogue
enquanto ele me puxou pelos terminais, lutando pra me lembrar como abrir meus olhos toda vez
que eu piscava. Eu levei alguns minutos para entender o que estava acontecendo quando paramos
no balcão internacional para fazer o check-in para o próximo vôo.
- Rio de Janeiro? - Eu perguntei com um pouco de trepidação.
- Outra parada - ele me disse.
O vôo para a América do Sul foi longo, mas confortável no largo acento da primeira classe,
com os braços de Edward ao meu redor. Eu dormi até não agüentar mais e me acordei
estranhamente alerta enquanto nós sobrevoávamos o aeroporto com as luzes do pôr do sol
entrando pelas janelas do avião.
Nós não ficamos no aeroporto para fazer outra conexão, como eu esperava. Ao invés disso
nós pegamos um táxi nas ruas vivas, escuras e lotadas do Rio. Incapaz de entender as instruções
em português que Edward dava ao motorista, eu imaginei que íamos encontrar um hotel antes de
seguir com a próxima parte da nossa jornada. Uma forte pontada de alguma coisa muito parecida
com medo de palcos fez meu estômago revirar enquanto eu considerava isso. O táxi continuou
passando pelas multidões até que elas foram diminuindo, de alguma forma, e nós parecíamos
estar nos aproximando do lado oeste da cidade, indo em direção ao oceano.
Nós paramos nas docas.
Edward guiou o caminho através da longa fila de iates brancos atracados na água escurecida
pela noite. O barco no qual ele parou era menor que os outros, mais fino, obviamente construído
pensando mais em velocidade do que em espaço. No entanto, mesmo assim era luxuoso, e mais
gracioso que os outros. Ele pulou pra dentro com facilidade, apesar das malas pesadas que ele
carregava. Ele as largou no deck e se virou para me ajudar a subir cuidadosamente na beirada.
Eu observei em silêncio enquanto ele preparava o barco para zarpar, surpresa pela forma
como ele parecia estar habituado e confortável com aquilo, já que ele nunca tinha mencionado
interesse em barcos antes. Mas, novamente, ele era bom em simplesmente tudo.
Enquanto nós seguíamos para o leste à oceano aberto, eu revisei geografia básica na minha
cabeça. Até onde eu conseguia lembrar, não havia muito mais a leste do Brasil... até que você
chegava na África.
Mas Edward acelerou em frente enquanto as luzes do Rio iam sumindo e finalmente
desapareceram atrás de nós. No rosto dele estava o sorriso feliz já familiar, aquele que era
produzido por qualquer espécie de velocidade. O barco se atirava nas ondas e eu levava banhos
com a água do mar.
Finalmente a curiosidade que eu estava segurando a tanto tempo me venceu.
- Vamos pra mais longe? - Eu perguntei.
Não era natural pra ele esquecer que eu era humana, mas eu me perguntei se ele planejava
que nós ficássemos vivendo naquele espacinho por muito tempo.
- Cerca de meia hora. - Os olhos dele encontraram minhas mãos, agarradas nos bancos, e
ele sorriu.
Oh bem, eu pensei comigo mesma. Afinal de contas, ele era um vampiro. Talvez nós
estivéssemos indo para Atlantis.
Vinte minutos depois, ele chamou meu nome acima do ronco do motor.
- Bella, olhe ali. - Ele apontou diretamente para a frente.
No começo eu só vi a escuridão, e a trilha branca que a lua deixava na água. Mas eu me
concentrei no ponto para o qual ele apontava até achar uma forma escurecida e baixa quebrando
a luz da lua nas ondas. Enquanto eu olhava para a escuridão, a silhueta ficou mais detalhada. Era
a forma de um triângulo plano, irregular, com um lado mais longo do que o outro antes de
afundar nas ondas. Nós nos aproximamos e eu pude ver que os contornos eram leves, balançando
à leve brisa.
E aí meus olhos entraram em foco e tudo fez sentido: uma pequena ilha se erguia na água à
nossa frente, com palmeiras frondosas, a praia mais brilhante e pálida à luz da lua.
- Onde nós estamos? - Eu murmurei, sonhadora, enquanto ele mudava de direção, indo para
o lado norte da ilha.
Ele me ouviu, apesar do barulho do motor, e deu um grande sorriso que resplandeceu à luz
da lua.
- Essa é a Ilha Esme.
O barco parou dramaticamente, ficando na posição precisa no pequeno cais construído com
placas de madeira, embranquecidos pela brancura da lua. O motor foi desligado, e o silêncio que
se seguiu foi profundo. Não havia nada além das ondas, batendo levemente no barco, e o ruído da
brisa nas palmeiras. O vento era quente, úmido, e perfumado – como o vapor que ficava depois
de um banho.
- Ilha Esme? - Minha voz era baixa, mas pareceu alta demais quando enfrentou a noite
quieta.
- Um presente de Carlisle – Esme se ofereceu para nos emprestar.
Um presente? Quem dá ilhas de presente? Eu fiz uma careta. Eu não tinha me dado conta
que a extrema generosidade de Edward era um comportamento que ele havia aprendido.
Ele colocou as malas no cais e se virou de volta, sorrindo com seu sorriso perfeito enquanto
me alcançava. Ao invés de me pegar pela mão, ele me puxou direto pros seus braços.
- Não é pra você esperar até chegar na porta? - Eu perguntei, sem ar, enquanto ele saltava
facilmente pra fora do barco.
Ele sorriu. - Se eu não fizer tudo não tem graça.
Segurando as alças das duas enormes malas com uma mão só e me segurando com o outro
braço, ele me carregou pelo cais e por uma trilha de areia clarinha através da vegetação escura.
Por um breve momento tudo ficou como breu na mata que mais parecia uma selva, e ai eu
consegui avistar uma luz cálida à frente. Foi mais ou menos nesse ponto que eu me dei conta que
a luz era uma casa – os dois quadrados perfeitos e brilhantes eram janelas largas que margeavam
a porta da frente – aquele medo de palco novamente, mais poderoso que antes, pior do que
quando eu pensei que estávamos indo para um hotel.
Meu coração bateu audivelmente nas minhas costelas, e a minha respiração pareceu ficar
presa na minha garganta. Eu senti os olhos de Edward no meu rosto, mas me recusei a encontrar
o olhar dele. Eu olhei diretamente para a frente, sem enxergar nada.
Ele não me perguntou o que eu estava pensando, e isso não era comum pra ele. Eu acho
que isso significa que ele estava tão nervoso quanto eu estava.
Ele pôs as malas no chão para abrir as portas – elas estavam destrancadas.
Edward olhou para mim, esperando que eu encontrasse o olhar dele antes de passar pela porta.
Ele me carregou pela casa, nós dois muito quietos, acendendo as luzes enquanto passava.
Minha vaga impressão da casa foi que ela era grande demais pra uma ilha tão pequena, e
estranhamente familiar. Eu me acostumei ao esquema de cores pálidas que os Cullen preferiam;
eu me sentia em casa. No entanto, eu não me foquei em coisas específicas. O violento pulso
batendo nos meus ouvidos fazia tudo ficar distorcido.
Então Edward parou e acendeu a última luz.
O quarto era grande e branco, e a parede mais distante era praticamente feita de vidro –
uma decoração padrão para os meus vampiros. Do lado de fora, a lua estava brilhando na areia
branca e, apenas a alguns metros de distância da casa, as ondas brilhantes. Mas eu mal notei essa
parte. Eu estava mais concentrada na cama absolutamente enorme no centro do quarto, com
leves mosquiteiros pendurados.
Edward me pôs no chão.
- Eu... Eu vou pegar a bagagem.
O quarto era quente demais, mais pesado do que a noite tropical lá fora. Uma trilha de suor
empapou a minha nuca. Eu caminhei para a frente lentamente até que eu consegui erguer a mão
e tocar o mosquiteiro opaco. Por algum motivo, eu precisava ter certeza de que tudo era real.
Eu não ouvi Edward voltar. De repente, seus dedos gelados estavam acariciando a minha
nuca, enxugando a transpiração.
- É um pouco quente aqui - ele disse como quem pedia desculpas. - Eu achei... que seria o
melhor.
- Absolutamente - eu murmurei por baixo do meu fôlego, e ele gargalhou. Era um som
nervoso, raro para Edward.
- Eu tentei pensar em tudo que pudesse tornar isso mais... fácil - ele admitiu.
Eu engoli fazendo barulho, ainda sem olhar na direção dele. Será que já existiu uma lua de mel
assim antes?
E sabia a resposta pra isso. Não. Não existiu.
- Eu estava me perguntando - Edward disse lentamente. - se... primeiro... talvez você goste
de um mergulho à meia noite comigo? - Ele respirou profundamente, e a voz dele estava mais
tranqüila quando ele falou novamente. - A água estará bem quentinha. Esse é o tipo de praia que
você aprovaria.
- Parece bom - Minha voz se quebrou.
- Eu tenho certeza que você gostaria de um ou dois minutos humanos... Foi uma longa
viagem.
Eu balancei a cabeça rigidamente. Eu mal me sentia humana; talvez alguns minutos a sós
me ajudassem.
Os lábios dele alisaram a minha garganta, logo abaixo do meu ouvido. Ele riu uma vez e sua
respiração fria fez cócegas na minha pele esquentada. - Não demore muito, Sra. Cullen.
Eu pulei um pouco pelo som do meu novo nome.
Os lábios dele desceram no meu pescoço até o topo do meu ombro. - Eu vou esperar por
você na água.
Ele passou por mim indo até as portas francesas que se abria dando diretamente para a
noite enluarada. O ar pesado, salgado, entrou no quarto atrás dele.
A minha pele ficou em chamas? Eu precisei olhar pra baixo para checar. Não, eu não estava
queimando. Pelo menos, não visivelmente.
Eu me lembrei de respirar, e aí cambaleei em direção à mala gigante que Edward tinha
deixado aberta sobre uma penteadeira baixa. Ela devia ser minha, pois a minha familiar bolsa de
utensílios de higiene estava em cima dela, e haviam muitas coisas cor de rosa por ali, mas eu não
reconheci nada que pudesse ser uma roupa. Enquanto eu escavava as pilhas cuidadosamente
arrumadas – procurando alguma coisa familiar e confortável, um par de calças de moletom, talvez
– eu me dei conta que havia uma quantidade absurda de laços e cetim sedoso nas minhas mãos.
Lingerie. Lingerie com cara de lingerie, com etiquetas francesas.
Eu não sabia como e quando, mas algum dia, Alice ia pagar por isso.
Desistindo, eu fui para o banheiro e dei uma espiada pelas longas janelas que se abriam
para a mesma praia que se abriam para as portas francesas. Eu não conseguia vê-lo; eu imaginei
que eles estivesse lá na água, sem se incomodar em respirar. No céu lá em cima, a lua estava
minguante, quase cheia, e a areia estava numa cor branca e brilhante sob seu brilho. Um pequeno
movimento chamou minha atenção. Seguras com uma espécie de laço em uma das palmeiras que
margeavam a praia, o resto das roupas dele estavam balançando com a brisa suave.
Uma onda de calor passou pela minha pele novamente.
Eu respirei fundo duas vezes e fui para o espelho acima da longa fila de armários. Eu estava
exatamente com a cara de quem passou o dia inteiro dormindo num avião. Eu encontrei minha
escova e a passei com força nos bolos de cabelo na base da minha nuca até que eles ficaram
macios e a escova ficou cheia de fios. Eu escovei meus dentes meticulosamente, duas vezes.
Então eu lavei meu rosto e passei água na minha nuca, que estava meio febril. A sensação foi tão
boa que eu também lavei meus braços, e finalmente eu resolvi desistir e ir pro chuveiro. Eu sabia
que era ridículo tomar banho antes de ir nadar, mas eu precisava me acalmar, e água quente era
uma forma confiável de fazer isso.
Além do mais, raspar as minhas pernas também parecia uma boa idéia.
Quando eu acabei, eu agarrei uma grande toalha na pia e a enrolei embaixo dos meus
braços.
Ai eu dei de cara com um dilema que eu não havia considerado. O que eu ia usar? Não uma
roupa de banho, lógico. Mas também parecia bobagem colocar as minhas roupas de novo. Eu nem
quis saber das coisas que Alice tinha colocado na mala pra mim.
Minha respiração começou a acelerar de novo e minhas mãos tremeram – os efeitos
calmantes de tomar banho já eram.
Eu comecei a me sentir meio tonta, aparentemente um ataque de pânico com força máxima
se aproximava. Eu sentei no chão frio de azulejo com a minha toalha grande e coloquei a cabeça
entre os joelhos. Eu rezei pra que ele não decidisse vir me procurar antes que eu conseguisse me
refazer. Eu podia imaginar o que ele ia pensar se me visse aos pedaços desse jeito. Não seria
difícil ele se convencer que nós estávamos cometendo um erro.
Eu não estava pirando por achar que estávamos cometendo um erro. Nem um pouco. Eu
estava pirando porque eu não tinha idéia de como fazer isso, e eu estava com medo de sair desse
quarto e enfrentar o desconhecido. Especialmente usando lingerie francesa. Eu sabia que não
estava pronta pra isso ainda.
Isso era exatamente como ter que entrar num teatro cheio de gente sem ter a mínima noção
de quais eram as minhas falas.
Como as pessoas faziam isso – engolir seus medos e confiar tão cegamente em alguém com
todas as imperfeições e medos que ela tem – com tão menos do que o absoluto cometimento que
Edward tinha me dado? Se não fosse Edward lá fora, se eu não soubesse com todas as células do
meu corpo que eu o amo – incondicionalmente e irrevogavelmente, e honestamente,
irracionalmente – eu nunca seria capaz de levantar desse chão.
Mas era Edward lá fora, então eu sussurrei as palavras “Não seja covarde” bem baixinho e
cambaleei pra ficar de pé. Eu prendi a toalha mais alto embaixo dos meus braços e marchei com
determinação pra fora do banheiro. Passei pela mala cheia de lacinhos e pela enorme cama sem
olhar para nenhum dos dois. Abri a porta de vidro e fui para a areia fina como talco.
Tudo estava preto e branco, tudo ficou sem cor por causa da lua. Eu caminhei lentamente
pelo pó quentinho, parando ao lado da árvore curvada onde ele tinha deixado suas roupas. Eu pus
minha mão no tronco ríspido e chequei minha respiração para ver se ela estava uniforme.
Ou uniforme o suficiente.
Eu olhei através do mato baixo, no negro da escuridão, procurando por ele.
Não foi difícil encontra-lo. Ele estava de pé, de costas pra mim, mergulhado até a cintura na água
da meia noite, olhando para a lua oval.
A luz pálida da lua deixava sua pele numa perfeita cor branca, como a areia, como a própria
lua, e deixava seu cabelo negro como o oceano. Ele estava imóvel, as palmas de suas mãos
descansando na superfície da água; as ondas baixas se quebravam ao redor dele, como se ele
fosse uma pedra. Eu olhei para as suaves linhas das costas dele, de seus ombros, seu pescoço,
seu formato indefectível...
O fogo já não deixava mais rastros na minha pele – agora ele queimava lenta e
profundamente; ele sumiu com a minha estranheza, minha tímida incerteza. Eu deixei a toalha cair
sem hesitar deixando-a na árvore com as roupas dele, e caminhei para a luz branca; isso também
me fez ficar pálida como a areia branca.
Eu não conseguia ouviu os sons dos meus passos enquanto caminhava até a beira da água,
mas eu imaginei que ele podia. Edward não se virou. Eu deixei as ondas gentis quebrarem aos
meus pés, e descobri que ele estava certo sobre a temperatura – ela estava bem quentinha, como
água de chuveiro. Eu entrei, caminhando cuidadosamente pelo chão invisível do oceano, mas a
minha preocupação era desnecessária; a areia continuava perfeitamente suave, indo gentilmente
na direção de Edward. Eu dei braçadas pela leve correnteza até estar ao lado dele, e então
repousei minha mão gentilmente sobre a mão gelada dele que pairava sobre a água.
- Lindo - eu disse, olhando para a lua também.
- É bonita - ele disse, sem se impressionar. Ele virou lentamente pra me olhar; pequenas
ondas acompanharam os movimentos dele e se quebravam na minha pele. Ele virou as mãos para
cima para que pudéssemos uni-las embaixo da água. Estava quente suficiente para que a pele fria
dele não causasse arrepios na minha.
- Mas eu não usaria a palavra linda - ele continuou. - Não com você bem aqui para fazer a
comparação.
Eu dei um meio sorriso, então ergui a minha mão livre – agora ela não tremia – e a coloquei
sobre o coração dele. Branco sobre branco; nós combinamos, pra variar. Ele estremeceu só um
pouquinho com o meu toque. A respiração dele agora estava mais ríspida.
- Eu prometi que ia tentar - ele sussurrou, ficando tenso de repente. - Se... Se eu fizer algo
errado, se eu te machucar, você precisa me dizer imediatamente.
Eu fiz um aceno solene com a cabeça, mantendo meus olhos grudados nos dele. Eu dei um
passo à frente nas ondas e deitei minha cabeça no peito dele.
- Não tenha medo - eu murmurei. - Nós fomos feitos pra ficar juntos.
De repente eu fiquei abismada pela veracidade das minhas próprias palavras. Esse momento
era tão perfeito, tão correto, que não havia nenhuma dúvida disso.
Os braços dele me cercaram, me segurando contra ele, éramos como inverno e verão. Parecia que
todas as terminações nervosas do meu corpo eram fios elétricos.
- Para sempre - ele concordou, e então nos puxou gentilmente mais pra dentro na água.
O sol, quente na pele das minhas costas nuas, me acordou pela manhã. Era tarde da manhã
ou logo cedo à tarde, eu não tinha certeza.
Apesar disso, tudo além da hora estava claro; eu sabia exatamente onde estava – o quarto
claro, com a grande cama, a luz brilhante do sol entrando pelas portas abertas. As nuvens do
mosquiteiro suavizavam o brilho.
Eu não abri meus olhos. Eu estava feliz demais para mudar qualquer coisa, não importa o
quão pequena ela fosse. Os únicos sons eram as ondas lá fora, nossa respiração, as batidas do
meu coração...
Eu estava confortável, mesmo sob o sol forte. A pele fria dele era um antídoto perfeito para
o calor. Deitada em seu peito gelado, com os braços dele ao meu redor, parecia simples e natural.
Eu me perguntei vagamente porque eu estava tão amedrontada por causa de ontem à noite.
Meus medos agora pareciam bobos.
Os dedos dele percorriam o contorno da minha espinha, e eu soube que ele sabia que eu
estava acordada. Eu mantive os olhos fechados e apertei o meu braço no pescoço dele, me
aproximando dele ainda mais.
Ele não falou; seus dedos se moviam pra cima e pra baixo nas minhas costas, quase sem me
tocar enquanto ele traçava contornos na minha pele.
Eu teria ficado feliz apenas e ficar deitada para sempre, sem nunca perturbar esse momento, mas
o meu corpo tinha outras idéias. Eu ri com o meu estômago impaciente. Parecia meio prosaico
sentir fome depois de tudo o que aconteceu na noite passada. Como estar sendo cair de volta na
Terra depois de subir alto demais.
- O que é tão engraçado? - Ele murmurou, ainda alisando as minhas costas. O som da voz
dele, séria e rouca, trouxe pra mim uma maré de memórias da noite passada, e eu senti meu
rosto e meu pescoço ficando vermelhos.
Para responder a pergunta dele, meu estômago rosnou. Eu ri de novo. - Eu posso escapar
da minha humanidade por muito tempo.
Eu esperei, mas ele não riu comigo. Lentamente, penetrando as muitas camadas de êxtase
que anuviava a minha cabeça, veio a realização de uma atmosfera diferente que vinha de fora da
minha própria esfera cintilante de felicidade.
Eu abri meus olhos; a primeira coisa que eu vi foi a pele pálida quase prateada da garganta
dele, o arco de seu queixo estava acima do meu rosto. Eu me ergui com o cotovelo para poder ver
o rosto dele.
Ele estava olhando para o arco da cama acima de nós, e ele não olhou para mim enquanto
eu estudava sua expressão grave. A expressão dele era chocante – ela mandou uma eletricidade
física pelo meu corpo.
- Edward - eu disse, um pequeno caroço estranho na minha garganta - o que foi? O que há
de errado?
- Você precisa perguntar? - A voz dele era dura, cínica.
Meu primeiro instinto, produto de uma vida inteira de inseguranças, foi me perguntar o que
eu havia feito de errado. Eu pensei em tudo o que havia acontecido, mas não consegui encontrar
nada que fosse desagradável. Tudo foi mais simples do que eu havia esperado; nós nos
completamos como um quebra-cabeças, feito pra se encaixar. Isso me deu uma satisfação secreta
– nós éramos compatíveis fisicamente, assim como de outras formas.
Fogo e gelo, de alguma forma existindo sem destruir um ao outro. Mais uma prova de que
eu pertencia a ele.
Eu não conseguia pensar em nenhuma parte que o fizesse ficar assim – tão frio e severo. O
que eu perdi?
Os dedos dele alisaram as linhas enrijecidas da minha testa.
- O que você está pensando? - Ele sussurrou.
- Você está aborrecido. Eu não compreendo. Eu...? - Eu não consegui terminar.
Os olhos dele se apertaram. - Quanto eu te machuquei, Bella? A verdade – não tente
melhorar as coisas.
- Machucar? - Minha voz saiu mais alta que de costume porque a palavra me pegou de
surpresa.
Ele ergueu uma sobrancelha, seus lábios se estreitaram.
Eu pensei rapidamente, enrijecendo meu corpo automaticamente, tencionando e flexionando
os músculos. Havia um pouco de rigidez e eu estava dolorida também, era verdade, mas o mais
estranho foi a sensação de que todos os meus ossos tinham se separado das juntas, e eu agora
tinha adquirido uma consistência meio parecida com a de uma gelatina. Não era uma sensação
desagradável.
E então eu fiquei com um pouco de raiva, porque ele estava obscurecendo a mais perfeita
das manhãs com suas idéias pessimistas.
- Porque você pularia pra essa conclusão? Eu nunca estive melhor do que estou agora.
Ele fechou os olhos. - Pare com isso.
- Parar com o quê?
- Pare de agir como se eu não fosse um monstro por ter concordado com isso.
- Edward! - Eu murmurei, com muita raiva agora. Ele estava levando minha memória
brilhante para a escuridão, aprisionando-a. - Nunca mais diga isso.
Ele não abriu os olhos; era como se ele não quisesse me ver.
- Olhe para si mesma, Bella. Me diga que eu não sou um monstro.
Magoada, chocada, eu segui as instruções dele sem pensar e fiquei sem fôlego.
O que aconteceu comigo? Eu não conseguia entender os flocos que neve branca grudados
na minha pele. Eu balancei a cabeça, e uma cascata branca caiu do meu cabelo.
Eu agarrei uma das coisas brancas entre meus dedos. Era um pedaço decadente.
- Porque eu estou coberta de penas? - Eu perguntei, confusa.
Ele exalou, impaciente. - Eu mordi um travesseiro. Ou dois. Não é disso que eu estou
falando.
- Você... mordeu um travesseiro? Por quê?
- Olhe, Bella! - Ele praticamente rosnou. Ele pegou minha mão – muito cuidadosamente – e
esticou meu braço. - Olhe pra isso.
Dessa vez, eu vi o que ele queria dizer.
Por baixo das penas, grandes machucados roxos estavam começando a aparecer na pele
pálida do meu braço. Meus olhos seguiram a trilha que eles faziam até os meus ombros, e depois
para baixo, nas minhas costelas. Eu soltei minha mão para cutucar uma pequena descoloração no
meu antebraço esquerdo, vendo ela desaparecer quando eu apertava, e aparecer de novo. Ela
doeu um pouco.
Tão levemente como se nem estivesse me tocando, Edward pôs as mãos sobre os
machucados no meu braço, um de cada vez, contornando os desenhos com seus longos dedos.
- Oh - eu disse.
Eu tentei lembrar disso – tentei lembrar da dor – mas não conseguia. Eu não conseguia
lembrar do momento em que ele me segurou com força demais, suas mãos duras demais contra
mim. Eu só me lembrava de querer que ele me abraçasse com mais força, e de estar satisfeita
quando ele fez isso...
- Eu... lamento, Bella. - ele sussurrou enquanto olhava os meus machucados. - Eu já devia
saber. Eu não devia ter - Ele fez um som baixo, revoltado, no fundo da sua garganta. - Eu lamento
mais do que consigo dizer.
Ele jogou o braço na frente do rosto e ficou perfeitamente imóvel.
Eu fiquei sentada por um longo momento, totalmente abismada, tentando me conciliar –
agora que eu já o entendia – com a infelicidade dele. Ela era tão contrária ao que eu sentia que
era difícil processar.
O choque foi passando lentamente, deixando nada em sua ausência. Vazio. Minha mente
estava em branco. Eu não conseguia pensar no que dizer. Como eu podia explicar pra ele do jeito
certo? Como eu podia deixa-lo feliz como eu estava – ou como eu estava há um momento atrás?
Eu toquei o braço dele e ele não respondeu. Eu agarrei o pulso dele com as minhas mãos e
tentei tirar seu braço da frente do rosto, mas tentar fazer uma escultura de mover teria sido
igualmente útil pra mim.
- Edward.
Ele não se moveu.
- Edward?
Nada. Isso seria um monólogo então.
- Eu lamento, Edward. Eu... nem sei o que dizer. Eu estou tão feliz. Isso não melhora as
coisas. Não fique com raiva. Não. Eu estou realmente b–
- Não diga a palavra bem - a voz dele estava fria. - Se você valoriza a minha sanidade, não
diga que você está bem.
- Mas eu estou - eu sussurrei.
- Bella - ele quase gemeu. - Não.
- Não. Não você, Edward.
Ele moveu o braço; seus olhos dourados me olhando cautelosamente.
- Não estrague isso. - Eu disse a ele. - Eu. Estou. Feliz.
- Eu já arruinei isso - ele murmurou.
- Corta essa - eu atirei.
Eu ouvi os dentes dele se chocando.
- Ugh! - Eu rosnei. - Porque você não pode simplesmente ler minha mente? É tão
inconveniente ser mentalmente muda!
Os olhos dele se arregalaram um pouco, distraído, a despeito de si mesmo.
- Essa é nova. Você ama o fato de eu não conseguir ler sua mente.
- Hoje não.
Ele me encarou. - Por quê?
Eu joguei minhas mãos pro alto, frustrada, sentindo uma dor nos meus ombros que eu havia
ignorado. Minhas mãos pousaram no peito dele, num rápido tapa. - Porque toda essa angústia
completamente desnecessária se você pudesse ver como eu me sinto agora! Ou pelo menos, há
alguns minutos atrás. Eu estava perfeitamente feliz. Total e completamente em êxtase. Agora –
bem, eu to meio irritada, na verdade.
- Você devia estar com raiva de mim.
- Bem, eu estou. Isso faz você se sentir melhor?
Ele suspirou. - Não. Eu não acho que nada poderia me fazer sentir melhor agora.
- Isso - eu rebati. - É por isso aí que eu to com raiva. Você está matando a minha alegria,
Edward.
Ele revirou os olhos e balançou a cabeça.
Eu respirei fundo. Eu estava me sentindo um pouco mais dolorida agora, mas não era tão
ruim. Era mais ou menos como passar um dia levantando pesos. Eu fiz isso com Renée durante
uma das suas obsessões com fitness. Sessenta e cinco levantamentos e cinco quilos em cada mão.
No dia seguinte eu não conseguia caminhar. Isso não era nem de perto tão doloroso.
Eu engoli minha irritação e tentei deixar minha voz tranqüilizadora. - Nós sabíamos que isso
seria complicado. Eu pensei que isso já estava claro. E também – bem, isso foi muito mais fácil do
que eu achei que seria. E isso realmente não é nada - eu passei os dedos pelo meu braço. - Eu
acho que, para a primeira vez, sem saber o que esperar, nós fomos incríveis. Com um pouco de
prática –
De repente a expressão dele ficou tão lívida que eu parei no meio da frase.
- Claro? Você esperava isso, Bella? Você estava esperando que eu fosse te machucar? Você
estava achando que podia ser pior? Você considera esse experimento um sucesso porque você
conseguiu sair dele caminhando? Nada de ossos quebrados – isso significa vitória?
Eu esperei, deixando que ele botasse tudo pra fora. Então eu esperei um pouco mais
enquanto a respiração dele voltava ao normal. Quando os olhos dele estavam calmos, eu falei,
falando muito pausadamente.
- Eu não sabia o que esperar – mas eu definitivamente não esperava que fosse tão... tão...
tão maravilhoso e perfeito quanto foi.
O volume da minha voz caiu até virar um murmúrio, meus olhos passaram do rosto dele
para as minhas mãos. - Quer dizer, eu não sei como foi para você, mas foi assim pra mim.
Um dedo frio fez meu queixo levantar de novo.
- É com isso que você está preocupada? - Ele disse através dos dentes. “Se eu gostei?
Meus olhos permaneceram baixos. - Eu sei que não é a mesma coisa. Você não é humano.
Eu só estava tentando explicar que, para uma humana, bem, eu não consigo imaginar que a vida
possa ficar ainda melhor que isso.
Ele ficou em silêncio por tanto tempo que, finalmente, eu tive que olhar para cima. O rosto
dele estava mais calmo agora, pensativo.
- Parece que eu tenho mais motivos pra me desculpar. - Ele fez uma careta. - Eu nem
sonhava que você fosse presumir que a forma como eu me sinto pelo que eu fiz ontem à noite
significa que a noite passada não foi... bem, a melhor noite da minha existência. Mas eu não quero
pensar dessa forma, não quando você está...
Meus lábios se curvaram um pouco nos lados. - Sério? A melhor de todas? - Eu perguntei
numa voz baixa.
Ele pegou meu rosto em suas mãos, ainda introspectivo. - Eu falei com Carlisle depois que
você e eu fizemos o nosso trato, esperando que ele pudesse me ajudar. É claro que ele me avisou
que isso seria muito perigoso para você. - Uma sombra cruzou sua expressão. - Mas ele tinha fé
em mim – fé que eu não merecia.
Eu comecei a protestar, e ele colocou dois dedos nos meus lábios antes que eu pudesse
comentar.
- Eu também perguntei a ele o que eu poderia esperar. Eu não sabia como isso seria para
mim... sendo eu um vampiro. - Ele sorriu meio sem vontade. - Carlisle me disse que isso era uma
coisa muito poderosa, como nenhuma outra coisa. Ele me disse que o amor físico não era uma
coisa que eu devia subestimar. Com os nossos temperamentos mudando tão raramente, emoções
fortes podem nos alterar em caráter permanente. Mas ele disse que eu não precisaria me
preocupar com essa parte – você já tinha me alterado completamente. - Dessa vez o sorriso foi
mais genuíno. - Eu falei com os meus irmãos, também. Eles me disseram que era um prazer
enorme. Perdendo apenas para o prazer de beber sangue humano. - Uma linha se desenhou na
testa dele. - Mas eu já experimentei o seu sangue, e não pode existir um sangue mais potente que
isso... Na verdade eu não acho que eles estejam errados. Só que isso foi diferente para nós. Algo
mais.
- Foi algo mais. Foi tudo.
- Isso não muda o fato de que foi errado. Mesmo se houvesse a possibilidade de você
realmente se sentir dessa forma
- O que isso significa? Você acha que eu estou inventando isso? Porque?
- Para amenizar a minha culpa. Eu não posso ignorar as evidências, Bella. Ou a sua história
de me livrar das responsabilidades quando eu cometo erros.
Eu agarrei o queixo dele e me inclinei para a frente até que os nossos rostos só estavam a
uns centímetros de distância um do outro. - Me ouça, Edward Cullen. Eu não estou fingindo nada
pelo seu bem, tá legal? Eu nem sabia que havia alguma razão pra fazer você se sentir melhor até
que você começou a agir tão infeliz. Eu nunca estive tão feliz em toda a minha vida – eu não fiquei
feliz assim nem quando você decidiu que seu amor por mim era maior que sua vontade de me
matar, ou na primeira manhã que acordei com você lá esperando por mim... Nem mesmo quando
eu ouvi sua voz no estúdio de balé – ele enrijeceu com a memória antiga do meu encontro com
um vampiro caçador, mas eu não parei – ou quando você disse ‘eu aceito’ e eu me dei conta de
que, de alguma forma, eu consegui ficar com você pra sempre. Essas são as memórias mais
felizes que eu tenho, e essa é melhor do que qualquer uma delas. Então aceite isso.
Ele tocou a linha enrugada entre as minhas sobrancelhas. - Eu estou te deixando infeliz
agora. Eu não quero fazer isso.
- Então você não fiquei triste. Essa é a única coisa errada aqui.
Os olhos dele se estreitaram, então ele respirou profundamente e balançou a cabeça. - Você
está certa. O passado é passado e eu não posso fazer nada para mudá-lo. Não faz sentido deixar
meu mau humor afetar esse momento para você. Eu farei o que foi preciso para te deixar feliz
agora.
Eu examinei o rosto dele cheia de suspeita, e ele me deu um sorriso sereno.
- Qualquer coisa que me deixe feliz?
Meu estômago rosnou ao mesmo tempo que eu fazia a pergunta.
- Você está com fome - ele disse rapidamente. Ele saiu da cama velozmente, levantando
uma nuvem de penas. O que me fez lembrar.
- Então, porque exatamente você resolveu arruinar os travesseiros de Esme? - Eu perguntei,
sentando e tirando mais algumas do meu cabelo.
Ele já tinha vestido um par de calças caqui folgadas, e estava perto da porta, bagunçando o
cabelo, fazendo algumas penas voarem também.
- Eu não sei se decidi fazer alguma coisa na noite passada - ele resmungou. - Temos sorte
que foram os travesseiros e não você. - Ele inalou profundamente e balançou a cabeça, como se
estivesse expulsando o pensamento obscuro. Um sorriso muito autêntico se espalhou pelo rosto
dele, mas eu imaginei que estava dando muito trabalho colocá-lo lá.
E deslizei cuidadosamente da cama, mais consciente, agora, das dores e dos locais
doloridos. Eu o ouvi resfolegar. Ele deu as costas pra mim, e suas mãos se fecharam nos punhos,
os nós dos dedos ficando brancos.
- Minha aparência é tão odiosa assim? - Eu perguntei, trabalhando para manter meu tom
leve. Ele prendeu a respiração, mas não se virou, provavelmente para esconder sua expressão de
mim. Eu caminhei até o banheiro para checar a mim mesma.
Eu olhei para o meu corpo nu no grande espelho que ficava atrás da porta.
Definitivamente eu já tive dias piores. Havia uma leve sombra em uma das minhas bochechas, e
meus lábios estavam um pouco inchados, mas além disso, meu rosto estava bem. O resto do meu
corpo estava decorado com manchas azuis e roxas. Eu me concentrei nos machucados que seriam
mais difíceis de esconder – nos meus braços e nos meus ombros. Eles não estavam tão mal. Minha
pele se refazia facilmente. Quando um machucado vinha a aparecer, eu geralmente já tinha
esquecido como ele foi feito. É claro que estes estavam apenas em desenvolvimento. Eu estaria
muito pior amanhã. Isso não ia facilitar as coisas.
Aí eu olhei para o meu cabelo e gemi.
- Bella? - Ele estava bem ali ao meu lado assim que eu emiti o som.
- Eu nunca vou conseguir tirar isso tudo dos meus cabelos! - Eu apontei para a minha
cabeça, que parecia mais com um ninho de galinha. Eu comecei a recolher as penas.
- Você tinha que estar preocupada com o seu cabelo - ele murmurou, mas veio parar atrás
de mim e começou a retirar as penas muito mais rapidamente.
- Como você consegue não rir disso? Eu estou ridícula.
Ele não respondeu; ele simplesmente continuou tirando. E aí eu soube a resposta
imediatamente – nada poderia ser engraçado enquanto ele estivesse com esse humor.
- Isso não vai funcionar - eu suspirei depois de um minuto. - Está tudo colado aí. Eu vou ter
que tentar lavar. - Eu me virei, passando os braços pela cintura fria dele. - Você quer me ajudar?
- É melhor eu ir achar comida pra você - ele disse com uma voz baixa, e gentilmente afastou
meus braços. Eu suspirei enquanto ele se afastava, se movendo rápido demais.
Parecia que a minha lua de mel estava acabada. Esse pensamento trouxe um grande caroço
para a minha garganta.
Quando eu estava quase sem penas e usando um vestido de algodão desconhecido que
escondia a maior parte das manchas cor de violeta, eu caminhei com os pés descalços até onde o
lugar de onde o cheiro dos ovos com bacon e queijo cheddar estava vindo.
Edward estava de frente pra um fogão de aço inoxidável, deslizando um omelete num prato
azul claro que estava esperando no balcão. O cheiro de comida me dominou. Eu senti que podia
comer o prato e a frigideira também; meu estômago roncou.
- Aqui - ele disse. Ele se virou com um sorriso nos lábios e colocou o prato sobre uma
pequena mesa azulejada.
Eu sentei em uma das cadeiras de metal e comecei a comer os ovos quentes com gula. Eles
queimaram minha garganta, mas eu não me importei.
Ele sentou à minha frente. - Eu não estou te alimentando com freqüência suficiente.
Eu engoli e então lembrei ele - Eu estava dormindo. Isso está muito bom, por sinal.
Impressionante pra uma pessoa que não come.
- Canal de receitas - ele disse, dando meu sorriso torto favorito.
Eu fiquei feliz ao vê-lo, feliz de ver que ele parecia mais com o seu ‘eu’ de sempre.
- De onde vieram os ovos?
- Eu pedi à equipe de limpeza que estocasse a cozinha. Isso é inédito nessa casa. Eu vou ter
que pedir a eles para cuidarem das penas... - Ele parou de falar, seu olhar fixado no espaço acima
da minha cabeça. Eu não respondi, tentando evitar qualquer coisa que o deixasse chateado de
novo.
Eu comi tudo, apesar dele ter cozinhado suficiente para duas pessoas.
- Obrigada - e disse a ele. Eu me inclinei sobre a mesa para beijá-lo. Ele correspondeu meu
beijo automaticamente, então de repente enrijeceu e se afastou.
Eu apertei meus dentes, e a pergunta que eu pretendia fazer saiu parecendo uma acusação
- Você não vai me tocar de novo enquanto estivermos aqui, vai?
Ele hesitou, então deu um meio sorriso e ergueu a mão para alisar minha bochecha. Seus
dedos pousaram suavemente na minha pele, e eu não consegui não repousar meu rosto em sua
palma.
- Você sabe que não é isso o que eu quis dizer.
Ele suspirou e baixou as mãos. - Eu sei. E você está certa. - Ele pausou, erguendo um pouco
o queixo. E então ele falou novamente com firme convicção. - Eu não farei amor com você
novamente até que você seja transformada. Eu nunca vou te machucar novamente.
6 – DISTRAÇÕES
Minha diversão se tornou a prioridade número-um na Ilha Esme. Nós fizemos snorkeling
(bem, eu fiz enquanto ele ignorava sua habilidade de não precisar de oxigênio). Nós exploramos a
pequena selva que rodeava o pico rochoso. Nós visitamos os papagaios que moravam no dossel
da extremidade sul da ilha. Nós assistimos o pôr-do-sol do abrigo rochoso no ocidente. Nós
nadamos com os botos que brincavam na água quente e superficial. Ou pelos menos eu nadei;
quando Edward estava na água, os botos desapareciam como se um tubarão estive por perto.
Eu sabia o que estava acontecendo. Ele estava tentando me manter ocupada, distraída, para
que eu não continuasse com o assunto sobre sexo. Sempre que eu tentava falar com ele para que
ele tornasse isso mais fácil com um dos milhões de DVDs embaixo da grande TV de plasma, ele
me atraia para fora de casa com palavras mágicas, como recifes de corais e cavernas submersas e
tartarugas marinhas. Nós estávamos saindo todos os dias, então eu me encontrava
completamente cansada e exausta quando o sol finalmente se punha.
Eu adormecia sobre o meu prato depois que terminava de jantar todos os dias; uma vez eu
realmente adormeci na mesa e ele teve que me carregar para a cama. Parte disso era que Edward
sempre fazia muita comida para uma pessoa, mas eu estava tão faminta depois de nadar e escalar
todo dia que eu comia a maioria. Então, plena e desgastada, eu mal podia manter meus olhos
abertos. Tudo parte do plano, sem dúvida.
Exaustão não ajudou muito com as tentativas de persuasão. Mas eu não desisti. Eu tentei
refletindo, discutindo, e resmungando, tudo em vão. Eu estava geralmente inconsciente antes que
eu pudesse prolongar meu caso. E então meus sonhos pareciam tão reais – pesadelos
principalmente, tornando mais vívidos, eu esperava, pelas demais cores da ilha – que eu acordava
cansada, não importava quanto tempo eu havia dormido.
Em cerca de uma semana ou algo assim depois que chegamos a ilha, eu decidi tentar me
comprometer. Isso tinha funcionado no passado.
Eu estava dormindo no quarto azul agora. A equipe de limpeza não estaria aqui até o dia
seguinte, e então o quarto branco ainda tinha o nevado cobertor de baixo. O quarto azul era
menor, a cama razoavelmente proporcional. As paredes eram escuras, apaineladas de teca, e os
acessórios eram todos de uma luxuosa seda azul.
Eu iria me vestir com alguma lingerie das coleções de Alice para dormir a noite – que não
eram tão reveladores comparados aos escassos biquínis que ela havia embalado para mim. Eu
gostaria de saber se ela tinha tido uma visão de por que eu gostaria dessas coisas, e então eu
corei, envergonhada por esse pensamento.
Eu comecei devagar com inocentes cetins marfins, preocupada que revelando mais a minha
pele seria o contrário do útil, mas pronto para tentar qualquer coisa. Edward não pareceu notar
nada, como se eu tivesse vestindo as mesmas roupas velhas que eu vestia em casa.
Os machucados estavam muito melhor agora – amarelando em alguns lugares e
desaparecendo totalmente em outros – então hoje a noite eu tirei as ataduras enquanto ficava
pronta no banheiro. Estava preto, rendilhado, e embaraçoso para olhar. Tive o cuidado de não
olhar no espelho antes de voltar para o quarto. Eu não queria perder o meu nervo.
Eu tive a satisfação de ver seus olhos bem abertos por apenas um segundo antes de
controlar sua expressão.
- O que você acha? - Eu perguntei, girando para que ele pudesse ver todos os ângulos.
Ele limpou a garganta. - Você está linda. Você sempre está.
- Obrigada - Eu disse um pouco envergonhada.
Eu estava muito cansada para escalar rapidamente a cama macia. Ele colocou seus braços
ao meu redor e me puxou contra o seu peito, mas isso era rotina – era tão quente para dormir
sem o seu corpo frio por perto.
- Eu vou te fazer uma proposta - Eu disse sonolenta.
- Eu não vou fazer nenhum acordo com você - ele respondeu.
- Você nem ouviu o que eu estou oferecendo.
- Não importa.
Eu suspirei. - Ah. Eu realmente queria... bem.
Ele rolou os olhos.
Eu fechei os meus e deixei a isca sentar ali. Eu bocejei.
Isso só durou um minuto – não o tempo suficiente para eu me preocupar.
- Está certo. O que é que você quer?
Eu rangi os meus dentes por um segundo, lutando contra um sorriso. Se houvesse alguma
coisa que ele não pudesse resistir, era uma oportunidade de me dar algo.
- Bem, eu estava pensando... Eu sei que essa coisa toda de Dartmouth era suposto ser
apenas uma falsa história, mas honestamente, um semestre de faculdade não iria me matar - Eu
disse, ecoando suas antigas palavras, quando ele tentou me persuadir para não me transformar
uma vampira. - Charlie teria uma emoção fora das histórias de Dartmouth, eu aposto. Claro, pode
ser embaraçoso se eu não puder manter o contato todos os cérebros. Ainda... dezoito, dezenove.
Não é realmente uma grande diferença. Não é como se eu fosse chegar aos pés do corvo, no
próximo ano.
Ele ficou em silêncio por um longo momento. Então, com uma voz baixa, ele disse - Você
poderia esperar. Você poderia ficar humana.
Eu deti a minha língua, deixando a oferta se afundar.
- Por que você está fazendo isso comigo? - ele disse através dos seus dentes, seu tom de
repente com raiva. - Já não é suficientemente difícil sem tudo isso? - Ele agarrou um punhado de
cordões que estava franzido sobre minha coxa. Por um momento, pensei que ele ia rasgar a partir
da costura. Então suas mãos relaxaram. - Isso não importa. Eu não vou fazer nenhum acordo com
você.
- Eu quero ir à faculdade.
- Não, você não quer. E não há nada que vale a pena para arriscar sua vida de novo. Que
vale a pena para machucar você.
- Mas eu realmente quero ir. Bem, eu não quero o colégio tanto quanto o que eu quero – Eu
quero ser humana durante um tempo maior.
Ele fechou os seus olhos e exalou pelo nariz. - Você está me deixando louco, Bella. Nós já
não tivemos essa discussão um milhão de vezes, você sempre implorando para ser uma vampira
sem atraso?
- Sim, mas... bem, eu tenho uma razão para ser humana que eu não tinha antes.
- O que é?
- Adivinhe - Eu disse, e eu me arrastei pelos travesseiros para beijá-lo.
Ele me beijou de volta, mas não do jeito que me fez achar que estava ganhando. Era mais
como se ele estivesse tendo cuidado para não machucar meus sentimentos; ele estava
completamente, totalmente sobre controle. Gentilmente, ele me puxou para longe e me puxou
contra o seu peito.
- Você é tão humana, Bella. Controlada pelos seus sentimentos. - Ele riu.
- Esse é o ponto, Edward. Eu gosto dessa parte de ser humana. Eu não quero abrir mão
disso ainda. Eu não quero esperar anos sendo uma recém-nascida demente por sangue para que
alguma dessas partes volte para mim.
Eu bocejei, e ele sorriu.
- Você está cansada. Durma, amor. - Ele começou a zumbir a canção de ninar que ele
compôs para mim no nosso primeiro encontro.
- Eu me pergunto por que estou tão cansada - Eu murmurei sarcasticamente. - Não poderia
ser parte do seu esquema ou algo assim.
Ele só riu uma vez e voltou a zumbir.
- De tão cansada que eu tenho estado, você poderia pensar que eu estaria dormindo melhor.
O som quebrou. - Você tem dormido como a morte, Bella. Você não disse uma palavra nos
seus sonhos desde que chegamos aqui. Se não fosse o ronco, eu me preocuparia que você
estivesse escorregando em um coma.
Eu ignorei a parte do ronco; eu não roncava. - Eu não estive me remexendo? Isso é
estranho. Normalmente eu fico me mexendo toda sobre a cama quando estou tendo pesadelos. E
gritando.
- Você tem tido pesadelos?
- Vívidos. Eles me fazem tão cansada. - Eu bocejei. - Eu não acredito que eu não estive
falando sobre eles toda a noite.
- Sobre o que eles são?
- Coisas diferentes – mas os mesmos, você sabe, por causa das cores.
- Cores?
- É tudo tão brilhante e real. Geralmente, quando estou sonhando, eu sei que sou eu. Com
esses, eu não sei se estou adormecida. Isso faz eles serem apavorantes.
Ele soou perturbado quando falou de novo. - O que está assustando você?
Eu disse rapidamente. - Principalmente... - Eu hesitei.
- Principalmente? - Ele perguntou.
Eu não tinha certeza do porque, mas eu não queria falar a ele sobre a criança nos meus
pesadelos; tinha alguma coisa particular nesse horror. Então, em vez de lhe dar toda a descrição,
eu lhe dei só um elemento. Certamente suficiente para assustar a mim e a qualquer outra pessoa.
- Os Volturi - Eu sussurrei.
Ele me abraçou mais pra apertado. - Eles não vão mais nos perturbar. Você vai ser imortal
em breve, e eles não vão ter razão.
Eu deixei ele me confortar, sentindo um pouco de culpa por ele ter interpretado errado. Os
pesadelos não eram daquele jeito, exatamente. Não era disso que eu tinha medo – eu tinha medo
do garoto.
Ele não era o mesmo garoto do primeiro sonho – o garoto vampiro com os olhos de sangue
que estava sentado sobre as pessoas mortas que eu amava. Esse garoto com quem eu sonhei
pelas últimas quatro vezes na semana passada era definitivamente humano; suas bochechas eram
avermelhadas e seus amplos olhos eram um pouco verde. Mas como a outra criança, ele se mexeu
com medo e desespero enquanto os Volturi se fechavam entre nós.
Nesse sonho, que era tanto o velho quanto o novo, eu simplesmente tinha que proteger a
criança desconhecida. Não tinha outra opção. Mas no mesmo tempo, eu sabia que eu iria falhar.
Ele viu o desamparo no meu rosto. - O que eu posso fazer para ajudar?
Eu balancei a cabeça. - Eles são só sonhos, Edward.
- Você quer que eu cante para você? Eu canto a noite toda se isso for manter os pesadelos
longe.
- Eles não são tão maus. Alguns são legais. Tão... coloridos. Debaixo d’água, com os peixes
e os corais. Eles todos parecem como se realmente estivesse acontecendo – eu não sei se estou
sonhando. Talvez essa ilha é o problema. É muito claro aqui.
- Você quer ir pra casa?
- Não. Não, ainda não. Nós podemos ficar um pouco mais?
- Nós podemos ficar o quanto você quiser, Bella - ele me prometeu.
- Quando o semestre começa? Eu não prestando atenção antes.
Ele suspirou. Talvez ele começou a zumbir, mas eu já tinha apagado antes de ter certeza.
Depois, quando eu acordei na escuridão, foi como um choque. O sonho foi tão real... tão
vívido, tão sensorial...
Eu estremeci alto, agora, desorientada pelo quarto escuro. A um minuto atrás, parecia que
eu estava sobre um sol brilhante.
- Bella? - Edward sussurrou, seus braços ao meu redor, me balançando gentilmente. - Você
está bem, querida?
- Oh - eu estremeci de novo. Só um sonho. Não era real. Para minha grande surpresa,
lágrimas caíram dos meus olhos sem aviso, mantendo minha cabeça baixa.
- Bella! - ele disse – alto, alarmado agora. - O que foi? - Ele limpou as lágrimas das minhas
quentes bochechas com seus dedos frios e frenéticos, mas outras caíram.
- Era só um sonho. - Eu não pude conter a quebra da minha voz. As lágrimas eram
absurdamente perturbadoras, mas eu não pude obter o controle da dor agarrada em mim. Eu
queria tanto que o sonho fosse verdade.
- Tudo bem, amor, você está bem. Eu estou aqui. - Ele me movimentou para frente e para
trás, um pouco rápido para acalmar. - Você teve outro pesadelo? Não era real, não era real.
- Não era um pesadelo. - Eu balancei minha cabeça, esfregando as costas das minhas mãos
nos meus olhos. - Era um sonho bom. - Minha voz quebrou de novo.
- Então por que você esta chorando? - Ele perguntou, perplexo.
- Porque eu acordei - eu lamentei, envolvendo os meus braços nos seu pescoço, soluçando
na sua garganta.
Ele riu uma vez, mas o seu tom era tenso e preocupado.
- Tudo está bem, Bella. Respire fundo.
- Era tão real - eu chorei. - Eu queria que fosse real.
- Me conte sobre isso - ele insistiu. - Talvez isso te ajude.
- Nós estávamos numa praia... - Eu menti, indo um pouco para trás para ver sua ansiosa
expressão de anjo dentro da escuridão. Eu o encarei para tentar me acalmar.
- E? - Ele finalmente perguntou.
Eu pisquei para que as lágrimas dos meus olhos caíssem. - Oh Edward...
- Me conte, Bella - ele invocou, seus olhos selvagens preocupados com a dor na minha voz.
Mas eu não podia. Em vez disso, eu apertei os meus braços em volta do seu pescoço de
novo e apertei a minha boca na sua ferventemente. Não era o meu maior desejo – era preciso
para minha dor aguda. Sua resposta foi imediata mas rapidamente seguida pela sua repulsa.
Ele se debateu contra mim o mais gentil possível com a sua surpresa, me distanciando dele,
segurando os meus ombros.
- Não, Bella - Ele insistiu, olhando para mim horrorizado, como se eu tivesse perdido minha
cabeça.
Meus braços caíram, derrotados, e as bizarras lágrimas caíram numa forte corrente sobre o
meu rosto, um novo soluço subindo na minha garganta. Ele estava certo – eu devia estar louca.
Ele me olhou confuso, com olhos agonizados.
- Me descu-u-ulpe - Eu gaguejei.
Então ele me puxou para perto dele, me abraçando fortemente contra o seu peito de
mármore.
- Eu não posso, Bella, não posso! - Seu gemido era agonizado.
- Por favor - Eu disse, meu argumento abafando contra sua pele. - Por favor, Edward?
Eu não pude dizer se ele se moveu pela lágrimas tremendo na minha voz, ou se ele não
estava preparado para lidar com os meus inesperados ataques, ou se sua necessidade era
simplesmente insuportável como as minhas. Mas não importa a razão, ele puxou os meus lábios
de volta aos seus, se rendendo com um gemido. E nós começamos quando o meu sonho já tinha
ido embora.
Eu fiquei em silêncio quando acordei de manhã e tentei manter a minha respiração calma.
Eu estava com medo de abrir os olhos.
Eu estava deitada sobre o peito de Edward, mas ele estava bem quieto e os seus braços não
estavam ao meu redor. Isso era um mau sinal. Eu estava com medo de admitir que estava
acordada e ter que olhar a sua raiva – não importava pra quem ela estava dirigida.
Cuidadosamente, eu abri os meus olhos. Seus olhos estavam fixados para cima, seus braços
atrás da sua cabeça. Eu me curvei em cima do meu cotovelo até que eu pude ver o seu rosto
melhor. Ele estava liso, sem expressões.
- Em quantos problemas eu estou? - Eu perguntei numa voz baixa.
- Em muitos - ele disse, mas ele virou sua cabeça e sorriu para mim.
Eu suspirei. - Me desculpe - Eu disse. - Quero dizer... Bem, eu não sei exatamente o que foi
a noite passada. - Eu balancei a cabeça para a memória das lágrimas irracionais, da estranha
mágoa.
- Você nunca me disse sobre o que era o seu sonho.
- Eu acho que não – mas eu suponho que tenha te mostrado sobre o que era.
Eu ri nervosamente.
- Oh - Ele disse. Seus olhos se arregalaram, e então ele piscou. - Interessante.
- Era um sonho muito bom - Eu murmurei. Ele não comentou, então alguns segundos depois
eu perguntei - Estou perdoada?
- Estou pensando sobre isso.
Eu sentei, planejando examinar a mim mesma - não parecia ter penas, pelo menos. Mas
enquanto eu me movia, uma estranha onda de vertigem me acertou. Eu balancei e caí de novo
contra os travesseiros.
- Whoa... tontura.
Seus braços estavam ao meu redor então. - Você dormiu por um bom tempo. Doze horas.
- Doze? - Que estranho.
Eu tentei me dar um exame rápido enquanto falava, tentando ser imperceptível em relação à
isso. Eu parecia bem. Os hematomas no meu braço ainda eram de uma semana atrás,
amarelando. Eu me estiquei, experimentalmente. Eu me sentia bem, também. Mais que bem,
aliás.
- O inventário está completo?
Eu concordei timidamente. - Os travesseiros parecem ter sobrevivido.
- Infelizmente, eu não posso dizer o mesmo da sua, er, camisola. - Ele acenou com a cabeça
em direção ao pé da cama, onde vários pedaços de fita preta estavam jogados nos lençóis de
seda.
- Isso é muito ruim - eu disse. - Eu gostava daquela.
- Eu também.
- Houve mais algum acaso? - Eu perguntei timidamente.
- Eu terei que comprar Esme uma nova cabeceira - ele confessou, olhando acima de seus
ombros. Eu segui seu olhar e fiquei chocada em ver que pedaços de madeira pareciam ter sido
arrancados do lado esquerdo da cabeceira.
- Hmm. - Carranquei. - Você pensou que eu ouviria isso.
- Você é extraordinariamente não observadora quando está atenta a outra coisa.
- Eu estava um pouco envolvida. - Eu admiti, corando em um profundo vermelho.
Ele tocou minha bochecha queimando e suspirou. - Eu realmente vou sentir falta disso.
Eu encarei seu rosto, procurando qualquer sinal de raiva ou remorso que eu temia. Ele me
olhou de volta, sua expressão calma mas ilegível.
- Como você está se sentindo?
Ele riu.
- O que? - Exigi.
- Você parece tão culpada - como se tivesse cometido um crime.
- Eu me sinto culpada. - Murmurei.
- Então você seduziu seu demais-disposto marido. Isso não é uma ofensa capital.
Ele parecia estar brincando.
Minhas bochechas ficaram mais quentes. - A palavra seduziu contém um certo monte de
planos.
- Talvez seja a palavra errada. - Ele permitiu.
- Você não está bravo?
Ele sorriu tristemente. - Não estou bravo.
- Por que não?
- Bem... - Pausou. - Eu não te machuquei, primeiramente. Foi mais fácil essa vez, me
controlar, a canalizar o excesso. - Seus olhos se mudaram para um jeito danificado. - Talvez
porque eu tive uma idéia melhor do que esperar.
Um sorriso esperançoso começou a crescer pelo meu rosto. - Eu disse pra você que era tudo
prática.
Ele virou os olhos.
Meu estômago roncou, e ele deu risada. - Hora do café da manhã dos humanos?
Ele perguntou.
- Por favor - Eu disse, pulando pra fora da cama. Eu me movi rápido demais, eu cambaleei
feito bêbada pra obter meu equilíbrio de novo. Ele me pegou antes que eu pude tropeçar na
penteadeira.
- Você está bem?
- Se eu não tiver um senso de equilíbrio melhor na minha próxima vida, eu vou exigir
devolução!
Eu mesma cozinhei essa manhã, fritando uns ovos - muito faminta pra fazer algo mais
elaborado. Impaciente, eu os virei num prato depois de uns poucos minutos.
- Desde quando você come ovo estrelado? - ele perguntou.
- Desde agora.
- Você sabe quantos ovos você comeu durante essa última semana? - Ele puxou a cesta de
lixo de baixo da pia - estava cheia de caixas azuis vazias.
- Estranho - eu disse depois de engolir uma picante mordida. - Esse lugar está mexendo com
meu apetite. - E meus sonhos, e o meu já duvidoso balanço. - Mas eu gosto daqui. Apesar disso
nós teremos que partir logo, não é, para chegar em Dartmouth a tempo? Wow, eu acho que nós
precisamos arranjar um lugar para viver e tal, também.
Ele sentou perto de mim. - Você pode desistir desse faz de conta de faculdade agora - você
conseguiu o que queria. E nós não concordamos com nenhum negócio, então não há cordas
presas.
Eu bufei - Não era um faz de conta, Edward. Eu não passo meu tempo livre planejando com
algumas pessoas. O que nós podemos fazer parar tirar Bella de casa hoje? - Eu disse numa
impressão pobre de sua voz. Ele riu, sem vergonha. - Eu realmente quero um pouco mais de
tempo como humana - eu me inclinei para correr minha mão em seu peito nu. - Eu ainda não tive
o suficiente.
Ele me deu uma olhada duvidosa. - Por isso? - ele perguntou, pegando minha mão e a
movendo para seu estômago. - Sexo era a chave para tudo isso desde o início? - Ele revirou os
olhos. - Porque eu não pensei nisso? - ele susurrou sarcástico. - Eu poderia ter salvado muitos
argumentos.
Eu ri. - Yeah, provavelmente.
- Você é tão humana - ele disse novamente.
- Eu sei.
Um início de sorriso apareceu em seus lábios. - Nós iremos para Dartmouth? Mesmo?
- Eu provavelmente irei reprovar em um semestre.
- Eu irei ser seu tutor. - O sorriso estava largo agora. - Você irá amar a faculdade.
- Você acha que nós conseguiremos achar um apartamento assim, tão tarde?
Ele fez uma careta, parecendo culpado. - Bem, nós meio que já temos uma casa lá. Você
sabe, só por precaução.
- Você comprou uma casa?
- Bens mobiliários são um bom investimento.
Eu levantei uma sobrancelha e deixei isso pra lá. - Então nós estamos prontos.
- Eu terei que ver se nós vamos conseguir manter seu carro "antes" por um pouco mais de
tempo...
- Sim, Deus o livre eu não estar protegida por tanques.
Ele riu.
- Quanto tempo nós podemos ficar? - eu perguntei.
- Nós estamos bem quanto ao tempo. Algumas semanas a mais, se você quiser. E então nós
podemos visitar Charlie antes de ir para New Hampshire. Nós podemos passar o natal com
Renée...
Suas palavras pintavam um futuro feliz imediato, um sem dores para todos envolvidos.
Jacob, tudo menos esquecido, agitada, eu corrigi o pensamento - para quase todo mundo.
Isso não estava ficando muito fácil. Agora que eu havia descoberto exatamente como era
bom ser humana, era tentador deixar os planos falirem. Dezoito, dezenove, dezenove ou vinte...
Realmente importava? Eu não iria mudar muito em um ano. E ser humana com Edward... A
escolha ficava trapaceira a cada dia.
- Algumas semanas - eu concordei. E então, porque parecia que nunca haveria tempo o
suficiente, eu adicionei, - Então eu estava pensando - você sabe o que eu estava dizendo sobre
praticar antes?
Ele riu. - Você pode esperar um pouco com esse pensamento? Eu escutei um barco. A
equipe de limpeza deve estar aqui.
Ele queria que eu esperasse com aquele pensamento. Então ele quis dizer que ele não iria
me dar mais trabalho sobre praticar? Eu sorri.
- Me deixe explicar essa bagunça no quarto branco para Gustavo, e então nós podemos sair.
Há um lugar lá na floresta no sul –
- Eu não quero sair. Eu estou afim de escalar por toda ilha hoje. Eu quero ficar e ver um
filme.
Ele torceu seus lábios, tentando não rir do meu tom. - Tudo bem, o que você desejar. Por
que você não vai escolhendo lá fora enquanto eu vou abrir a porta?
- Eu não ouvi baterem na porta.
Ele jogou sua cabeça de lado, ouvindo. Um segundo depois, uma batida fraca e tímida soou
na porta. Ele sorriu, e se virou para o corredor.
Eu perambulei até as prateleiras sob a grande TV e comecei a ver os títulos. Era difícil decidir
por onde começar. Eles tinham mais DVDs que uma locadora.
Eu podia ouvir a voz baixa e veluda de Edward do hall, conversando fluentemente no que
parecia ser um português perfeito. Outra voz humana e penosa voz respondeu na mesma língua.
Edward os levou para a sala, apontando em direção a cozinha. Os dois brasileiros pareciam
incrivelmente pequenos e morenos ao lado dele. Um deles era um homem redondo, e a outra uma
pequena mulher, ambos rostos com dobras retas. Edward fez um gesto para mim com um
orgulhoso sorriso, quando eu ouvi o meu nome misturado em um turbilhão de palavras
desconhecidas. Eu fiquei um pouco envergonhada quando pensei na total bagunça na sala branca,
que eles logo acabaram encontrando. O pequeno homem sorriu pra mim educadamente.
Mas a tímida mulher não sorriu. Ela me encarou com uma mistura de choque, preocupação,
e acima de tudo, medo. Antes que eu pudesse reagir, Edward mencionou para eles o seguirem em
direção galinheiro, e eles se foram.
Quando ele reapareceu, ele estava sozinho. Ele andou silenciosamente até o meu lado e
passou os seus braços ao meu redor.
- O que ela tem? - Eu sussurrei urgente, lembrando da sua expressão de pânico.
Ele deu de ombros, despreocupado. - Kaure é parte dos índios Ticuna. Ela foi criada para ser
mais supersticiosa- ou você pode chamar de mais atenta- que os outros que vivem no mundo
moderno. Ela suspeita do que eu sou, ou perto disso. - Ele ainda não parecia preocupado. - Eles
têm suas próprias lendas por aqui. O libishomen- um demônio bebedor de sangue que saqueia
exclusivamente em lindas mulheres - ele olhou atravessado para mim.
Apenas mulheres bonitas? Bem, isso era meio que lijongeiro.
- Ela parecia aterrorizada - eu disse.
- Ela está - mas mais que isso, ela está preocupada com você.
- Comigo?
- Ela tem medo do porquê você está aqui, totalmente sozinha. - Ele riu escuramente e então
olhou para a parede de filmes. - Oh bem, porque você não escolhe algo para nós vermos? Essa é
uma coisa aceitável de humanos fazerem.
- Sim, eu tenho certeza que um filme irá a convencer de que você é humano. - Eu ri e prendi
meus braços seguramente ao redor de seu pescoço, me espichando apenas na ponta dos pés. Ele
se abaixo para que eu pudesse beijá-lo, e então seus braços se apertaram em torno de mim, me
levantando do chão para que ele não precisasse se curvar.
- Filme, shcfilme - Eu murmurei enquanto seus lábios se moviam para minha garganta,
torcendo meus dedos em seu cabelo de bronze.
Então eu escutei uma arfada, e ele me colocou no chão brutamente. Kaure estava parada
congelada no corredor, penas em seu cabelo negro, um largo saco de mais penas em seus braços,
uma expressão de horror em seu rosto. Ela me encarou, seus olhos saltando para fora, enquanto
eu corava e olhava para baixo. Então ela se recompôs e murmurou algo que, até mesmo para uma
lingua desconhecida, era claramente um pedido de desculpas. Edward sorriu e respondeu em um
tom amigável. Ela voltou seus olhos negros para longe e continuou pelo corredor.
- Ela estava pensando o que eu acho que ela estava pensando, não é? - Eu resmunguei.
Ele riu da minha frase enrolada. - Sim.
- Aqui - eu disse, estendendo a mão aleatoriamente, e pegando um filme. - Coloque isso
para que nós possamos fingir estar assistindo.
Era um velho musical com rostos sorridentes e vestidos cobertos de penugem na frente.
- Nós vamos voltar para o quarto branco, agora? - Eu perguntei vagarosamente.
- Eu não sei... eu já deformei a cabeceira da cama no outro quarto além do reparo - talvez
se nós limitássemos a destruição em uma área da casa, Esme nos convide para voltar algum dia.
Eu dei um largo sorriso. - Então irá ter mais destruição?
Ele riu de minha expressão. - Eu acho que talvez seja mais seguro se for premeditado, ao
em vez de esperar que você me ataque novamente.
- Seria apenas uma questão de tempo - eu concordei casualmente, mas minha pulsação
estava correndo em minhas veias.
- Há algum problema com seu coração?
- Não, saudável como um cavalo. - Eu pausei. - Você quer inspecionar a zona de destruição
agora?
- Talvez seja mais educado esperar até que estejamos sozinhos.Você pode não notar quando
eu estou detonando a mobília, mas isso provavelmente assustaria eles.
De fato, eu havia esquecido das pessoas no outro cômodo. - Certo. Diabos.
Gustavo e Kaure se moveram silenciosamente pela casa enquanto eu esperava
impacientemente que eles terminassem, tentando prestar atenção no Felizes para Sempre na tela.
Eu estava começando a sentir sono - embora, de acordo com Edward, eu já tivesse dormido
metade do dia - quando uma voz áspera me assustou. Edward sentou-se, me mantendo como
num berço contra ele e respondeu Gustavo num português fluente. Gustavo acenou com a cabeça
e andou em silêncio até a porta da frente.
- Eles terminaram. - Edward me contou.
- Então isso significaria que estamos sozinhos agora?
- Que tal almoçar primeiro? - ele sugeriu.
Eu mordi meu lábio, rasgada por um dilema. Eu estava faminta.
Com um sorriso ele pegou minha mão e me conduziu até a cozinha. Ele conhecia meu rosto
tão bem, não importava que ele não pudesse ler minha mente.
- Isso está ficando fora de controle - Eu reclamei quando eu finalmente me senti cheia.
- Você quer nadar com os golfinhos esta tarde - queimar algumas calorias? - ele perguntou.
- Talvez depois. Eu tenho outroa idéia para queimar calorias.
- E o que seria?
- Bem, há muitas cabeceiras horríveis deixadas-
Mas eu não terminei. Ele já havia me arrastado para seus braços, e seus lábios calaram os
meus enquanto ele me carregava com uma inumana velocidade para o quarto azul.
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