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"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem."

Mario Quintana


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Naquele tempo...

Os alunos da EEB Julieta Lentz Puerta foram inscritos na Olimpíada da Língua Portuguesa e participaram das oficinas nas aulas de Língua Portuguesa, promovidas pela professora Leila, sendo os alunos do 6º ano na categoria poemas e os alunos do 7º e 8º anos na categoria memórias literárias. O texto abaixo foi produzido pela aluna Vanessa Antunes da Luz, do 8º ano. Selecionado na etapa da escola, o mesmo foi encaminhado para a etapa municipal e agora está concorrendo a nível estadual. 
Parabéns Vanessa e boa sorte na próxima etapa!

Naquele tempo...

No meu tempo de escola íamos de “pé no chão”, sem calçados, até mesmo quando geava. A mochila era um saco de arroz onde levávamos caderno, lápis e borracha, que o pai buscava na prefeitura, pois não tinha condições de comprar. Não havia transporte escolar, a escola ficava longe. Às vezes, na metade do caminho, ao invés de ir para a escola, íamos brincar no mato e no horário do término da aula, íamos para casa novamente.
Naquela época eu andava mal vestido, minhas roupas eram remendadas, porque quando minha mãe ganhava as roupas rasgadas, remendava para não jogar fora e assim íamos para a escola, com camisa e calça remendada. Às vezes, no frio, não tínhamos agasalho, então íamos sem.
Até os cobertores tinham remendas. Com pedaços de retalhos minha mãe fazia acolchoado. E agora, colocar uma roupa remendada, ninguém coloca, porque acham feio.
Eu brincava na colônia com meus irmãos, trepávamos em árvores, brincávamos de pega-pega, esconde-esconde e na beira do rio com o cipó, que pra mim era a mais divertida. Depois, mais pra frente, foram aparecendo brincadeiras novas, como jogar bola. Um dia ganhamos uma bola que meu pai foi buscar na prefeitura. Antigamente as bolas eram de borracha e só mais tarde começaram a aparecer bolas de couro. Éramos muito felizes com o que ganhávamos.
Antigamente nós cozinhávamos em fogão feito de barro, chapa de ferro, fogões tipo “Jipão”, só se cozinhava na panela de ferro, pois não existia outro tipo.
O cultivo da terra também era carpindo e arando. A maior força era da junta de bois e com ela minha família lavrava e colhia os produtos, levados com a carroça de boi. Sem eles, era difícil de cultivar, usando enxada, foice e machado.
O modo de fazer as compras também era diferente. Era no armazém, um mercadão antigo feito de madeira. Lá tinha farinha, açúcar, tudo em fardos. Vendíamos os produtos cultivados em troca do “rancho”, e íamos faceiros para casa com a carroça cheia. Carne nós não comprávamos, pois tínhamos criação no interior.
Um momento marcante foi quando ganhei meu primeiro tênis novo de meus pais, para ir a uma festa grande na comunidade. Foi comprado no sábado para ser usado no domingo, mas ficou meio grande, então eu coloquei papelão no bico para poder usá-lo na festa. Lembro-me também quando ganhei meu primeiro “ki chute” de um colono para o qual eu trabalhava e que havia prometido presentear-me com um par desse tipo de tênis.
Naquele tempo eu ia namorar a cavalo porque a casa da namorada era longe. Quando chegava lá, tinha que sentar longe, não tinha esse negócio de agarra - agarra, beijinho pra lá, beijinho pra cá. A mãe dela ficava no meio de nós e não dava para pousar lá, tinha de voltar de madrugada. Namoramos uns dois anos, noivamos e enfim casamos. Os casamentos eram festas grandes, os pais carnearam dois bois e a ida para a igreja era de carroça, porque não tinha carro.
Naquela época não existia telefone celular nem computador. Só havia telefone público, e só na cidade, às vezes tinha um em posto de combustível. Não tínhamos televisão, só rádio. Tudo era mesmo muito diferente naquele tempo.

Aluna: Vanessa Antunes da Luz

Entrevistado: Gilmar da Luz – 39 anos.

Amanhecer (capítulos 7 a 16)